sábado, 6 de agosto de 2016

Eu não moro mais em mim

A inspiração tem me abandonado nos últimos dias. Sinto-me despido e quase sem perspectivas. O que falar ou escrever ao meu próximo que possa ajudá-lo a ser alguém melhor nos dias atuais? Acredito que o bombardeio dos meios comuns de comunicação (leia-se redes sociais) está numa ressaca braba ou até mesmo num marasmo de assuntos bombásticos que nos levam a uma condição explosiva. Mas, com isso, não levamos os méritos, apenas o desgaste e, talvez, o dissabor. Assim, tão logo saímos da brincadeira do "eu tenho razão" de mãos vazias e/ou atadas e já caímos no esquecimento imediato e, novamente, nos levantamos numa fração de segundos para um novo e previsível round.
 
Mas, tempo vem e virá como um tapa na cara. E então, quem sabe, seja tarde demais para realmente avaliarmos o ócio e para onde, de fato, estávamos direcionando as nossas energias, pois o clichê é latente: se queremos verdadeiramente alguma mudança, precisamos intransferivelmente começar de forma interna, ou seja, de nossa tão protegida, amada, idolatrada e salve, salve zona de conforto - ela mesma, a mala!
 
A cultura pragmática das convenções sociais continua, de certa forma, a nos entreter, ou obrigar, a nos darmos um mínimo de lazer. Ou seria um período de férias de nossa mediocridade? Mas, seria mesmo isso? Não! Observem: praticamos certas ações meio que mecanicamente para seguir a tendência do momento e nos vemos exatamente, neste momento, nos comportando ou lidando com algo que não é do nosso costume. Mas, ainda assim, estamos lá. Dentre os inúmeros vazios que sinto ao ver certos registros dos tais atos sociais, parte das tais convenções, estão as fotos com os elementos das festas: garrafas de uísque, gelo, energético (leia-se kit folia). Hoje em dia, ter uma rede social pode ser um "queima filme" letal ou algo muito benéfico no quesito de seleção natural visual do seu próximo. Há registros realmente encantadores, e até pessoais, que são redentores aos olhos de uma sociedade que tem a necessidade de um pouco mais de calor humano. Há, ainda, outros que ... Bem, # oremos!
 
Talvez se faça necessário um outro olhar ao passado. Sim, as nossas raízes nos falam muito de onde principiamos a nossa jornada. Estudamos história para não repetirmos os erros do passado e, quem sabe, neste imenso mar de lembranças não resgatemos algo muito valioso que pode estar adormecido dentro de nós, não é mesmo? Vira e mexe estou tendo surtos como esse. Cheguei a pensar, e em dizer, que fossem os meus fantasmas a me assombrar, mas eram situações meio embaraçosas que hoje eu poderia tirar de letra e raciocinei: "Que tal tentar”? Pura escola, com direito à máquina do tempo. Acredito que não queira sugerir o constrangimento, pois sei que temos momentos bem trash, mas a sugestão é de releitura, reinvenção.
 
Gostaria de deixar uma dica musical de uma artista muito expressiva que vem firmando seus passos no pop com delicadeza, estilo e nostalgia. Sim, a Mahmundi lançou recentemente um álbum homônimo, pelo selo Skol Music, e é de encantos imediatos. Talvez (e eu digo, sim, "talvez") ele te ajude e te fale algo. A mim, não tenha a mínima dúvida, o álbum tem ajudado e falado muito! A constatação do efeito do trabalho da Mahmundi é que, há dias, “eu não moro mais em mim”. 

Clique abaixo para conhecer Mahmundi

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Tempos Quase Modernos!

O tempo em que vivemos pode ser pseudodefinido como o "tempo dos acontecimentos dos últimos dias". O senso de praticidade, e urgência, está tão pungente que conseguir acompanhar ou assimilar todos os eventos é o mesmo que explodir, tal qual uma bombinha reativa. Os extremismos são paradigmas e dogmas de centenas de pessoas que vestem “a camisa” e passam por cima de seus próprios limites em uma busca cega por notoriedade, ou seu mérito, perante a verdade. Não existem mais fatos, apenas grandes suposições, conspirações infundadas num achismo leviano, carregado de ódio e fascismo. Não existem mais metas ou meios, apenas um definitivo e desorientado “SE”; e não há nada de lírico ou poético nisso, pois a coisa tende ao capenga e rasteiro. A sensação constante é de estarmos patinando contra a vontade e em uma maré de um grande terreno gelatinoso que nos deixa completamente vulneráveis às revoltas pela causa de algo que, por vezes, preferimos não saber o quê.
 
Toda informação é “bombástica” e as pessoas estão se mostrando além de “repórteres” de uma mídia sensacionalista para não inspirar ninguém em fantoches de suas próprias crendices e convicções, outrora perdidas na mesma velocidade dos acontecimentos que desafiam o tempo. Uma lógica retorcida que nos deixa com botas de chumbo a afundar num lamaçal respingado e aspergido com o mais irônico ácido de uma verdade que não se mostra ou apresenta consistência. Uma erosão de verbos numa parede frágil, culminando numa estrutura perdida. Não há freios ou rédeas, apenas uma velocidade feroz que irá esbarrar em um sem-obstáculo e, sinceramente, não sabemos onde iremos cair, se iremos flutuar ou voar neste vendaval de insegurança, frutos da nossa impulsividade e inconsequência.
 
Um raso rio de lamento passa por nossos pés, onde não há barragens de armazenamento, e a força toda está a secar. O sentimento ressabiado e envergonhado transpõe toda fé. Não temos certeza da “Sede de quê” da “fome de quê”. Diante desse cenário, estrelas se despedem e crianças mal criadas continuam brotando no mundo imundo chamado de televisão. Até os óvnis desistiram dessa rota, pois, conforme as fábulas e estórias, fomos nós mesmos, os alienígenas, os primeiros a ferrar com o nosso próprio habitat. Falta ainda fazer o mínimo, o realmente necessário: alguma dosagem cavalar de respeito e ciência. Ciência do básico. O maior mal, acredite, ainda continua sendo “aquilo que sai da boca do homem”; e nisso não avançamos.  Achamos, e queremos, sempre que sim! Concluo afirmando que (ainda) nada sei! E talvez nunca saiba nada sobre algo. Mas, qual o assunto que mais lhe interessa mesmo?!

Texto publicado originalmente no Parlamento PB.

TV para quê?



Na época dos nossos avós, ou até mesmo bem antes deles, o rádio - em sua modulação AM - era uma das fontes funcionais de comunicação e entretimento dos lares e, cerimonialmente, todos se reuniam em volta do objeto para ouvir os cantores do rádio e até novelas que eram encenadas nos clássicos estúdios. Então, a TV

chegou e bagunçou com a transição do rádio. Um mar de perspectivas e acontecimentos se desenrolou com tanta praticidade e frescor que a predominância trouxe, em si, uma grade onde a primazia pela qualidade, de certa forma, imperou. Tivemos os grandes festivais da canção propiciadores de espetáculos que revelaram nomes que se consagraram para eternidade, como é o caso da pimentinha Elis Regia, Jair Rodrigues, Chico Buarque, Mutantes, Gal Costa, dentre outros tantos.

O tempo foi passando. Passaram também novelas, programas de auditórios e a máquina do dinheiro começou a girar mais rápido. Algo muito comum no ser humano, habitualmente, é a gana de sempre se ganhar mais. Então, o quesito qualidade começou a passar para segundo plano e o foco passou a ser a audiência. Mas esta questão foi tão levada a sério ao longo desses anos que chegamos a um ponto estarrecedor. Tudo hoje na TV é um reflexo modulado, exageradamente, de planos pilotos lançados em vitrines fora do nosso eixo e que acabam por provocar um comportamento fantasioso por parte dos espectadores, como é o caso do Big Brother Brasil, que promove desde suas primeiras edições um verdadeiro arsenal de bizarrices comportamentais. Acredito que um programa como esse tenha realmente uma direção, pois, como já vimos, não é fácil prender a audiência sem uma boa trama, tudo muito bem selecionado, desde os participantes daqueles icônicos mais explosivos aos polêmicos, para serem dosados com fitness e zens presentes na casa. Mas calma, pois nem tudo é só mediocridade, já que no meio do mar há um bote com uma Minissérie aqui, outra acolá, talvez para mostrar quão grandiosa a grade de entretenimento poderia ser. O fato mais interessante de tudo é o alcance de pessoas ligadas na atração, o que deixamos de produzir quando damos audiência a algo tão sem propósito para o nosso crescimento interior. Observe que hoje, mesmo com tanta banalidade exposta, conseguimos fazer as nossas refeições vendo violência e corpos estirados no chão das nossas cidades. A questão da informação é inevitável, mas para quê ela serve de fato? Onde entra o discernimento para nos resguardarmos e optarmos pelo o que é melhor ou ruim para nós mesmos?

E mais uma vez o advento da internet e suas redes sociais devastaram com a briga pela audiência. Sim, agora cada um batalha por likes, curtidas, visualizações, visitas etc. É assustadoramente comum a veiculação de vídeos (o cinegrafista é o próprio repórter empunhando seu celular e dando o seu parecer “imparcial” acerca do fato que se desenrola na cena), fotos e áudios em seus mais puros e estúpidos conteúdos, em troca de atenção instantânea, passageira e a troco de nada.

Nas redes sociais, o fator surpresa do ser humano vem à tona com xingamentos e o desembaraçar de opiniões que se julgam as mais coesas e tangíveis de defesa até com os próprios dentes. E nesse pacote há de um tudo: assuntos religiosos, políticos e étnicos. De um outro lado, os mesmos internautas “intelectuais” burlam a lei com aquele tal "jeitinho brasileiro" com o uso de aplicativos para "alertar" colegas irregulares perante suas obrigações sociais de uma possível blitz. Ora, o embriagado, ou bandido, pode visualizar a mensagem, desviar e acertar o alvo: eu ou alguém de sua própria família! Há pessoas que não sabem avaliar uma informação, ter um senso crítico e, assim, nos vemos em um momento de ressaca de uma euforia, resultado da incapacidade do diálogo; de gente vomitando conceito, radicalismo e se achando no direito de não escutar nada. As pessoas estão adormecendo na queixa e na reclamação. Fato! Estamos oscilando muito entre a esperança e o desespero. O ponto é: até onde é engraçado levar/exaltar banalidade para "aliviar o peso dos dias"? O que nos faz ter direito de opinar, julgar e até apedrejar o nosso semelhante com tanto destemor? O poeta já escreveu certo dia: "que você saiba que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero". Para finalizar, ainda repito a frase de um post, de autoria desconhecida, onde um mar de consciência se desenrola em poucas palavras: "Em um lugar onde não há atividades culturais, a violência vira espetáculo". Precisamos, sim, investir em educação, tecnologia e em cultura, pois essas ferramentas, combinadas adequadamente, possibilitarão a formação de um bom raciocínio crítico.

Texto publicado originalmente no Parlamento PB.

Mãos à Obra!

Um vídeo postado nas redes sociais, ainda em 2015, deixou-me muito emocionado. O conteúdo exibia o discurso de uma artista negra, que começava recitando um texto de Harriet Tubman (também retroativo, pois data do ano 1800, mas tão atual e urgente), que dizia: “Na minha mente, eu vejo uma linha. Além dessa linha, vejo campos verdes e adoráveis flores, e lindas mulheres brancas com seus braços esticados para mim acima dessa linha, mas parece que eu não consigo chegar lá, parece que eu não consigo ultrapassar essa linha”. Viola Davis foi uma das primeiras atrizes negras a ganhar o cobiçado prêmio de melhor atriz dramática onde, em uma coleção de 67 edições do evento, a predominância para as vitoriosas da categoria era de mulheres de pele branca. Ela completa o seu discurso dizendo que "a única coisa que separa as mulheres negras de todas as outras é oportunidade".

Vídeo de Viola Davis


Pode soar repetitivo ou mesmo correr o risco de parecer rotulado, mas quero falar especificamente para as mulheres negras do meu estado, da minha terra, do meu lado. Ainda franzo a testa ao ver uma jovem querendo alisar o cabelo. Lembro, imediatamente, de minha prima branquinha e sua árdua luta para livrar o seu cabelo alisado à força de toda a química e o quanto ela chama atenção de outras cabeças com o resultado conquistado. Sim, cachos encaracolados de um cabelo preto, crespo, belo e saudável. Isso seria uma cereja no bolo de paradigmas enfrentados por dezenas de milhares de mulheres impostas por uma sociedade viciada em consumir o “veloz passageiro”.

Mulheres negras de força tamanha estão ao redor do nosso país fazendo suas revoluções e pouco confete é jogado em seus trabalhos. O retorno da sambista, de voz incomparável, Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo (Natura Music 2015) – é um exemplo, concreto, de toda a brasilidade da mulher, registrado na raça de uma sorevivente que tem um histórico feminino conturbado, mas que não maculou a sua dignidade e honra. Um trabalho de temas que, devido ao seu teor realista, nunca irão tocar no rádio, mas sabemos que os assuntos existem, estão em "voga" e, assim como certos aprendizados de vida, nunca entrarão em currículos escolares. A arte está em toda parte para que tenhamos novas possibilidades, para que possamos driblar a inevitável vida e seus obstáculos com criatividade, para nos renovar, para nos/te dar a tal “Oportunidade”! Orgulhe-se de seus feitos, de sua disposição, de seu caráter, orgulhe-se, sim, dos seus cabelos e, principalmente, do que você verdadeiramente é!

Texto publicado originalmente no Parlamento PB.

O ser humano é órfão!

Ultimamente, temos nos deparado com frequência, meio que frenética, com a notícia da partida de muitos artistas conhecidos do grande público, ou não. Quando falo ‘grande público’, refiro-me ao nosso público brasileiro, que tem atestadamente se alarmado com números imprescindíveis quanto à necessidade de heróis de um modo em geral. Enxergo essa necessidade como uma carência. Sim, a arte também pode ser pragmática se rotularmos qualquer movimento de alcance de massa como arte. Nas redes sociais, a partida de ídolos que em sua grande parte vem de uma linhagem onde o conceito autoral rompeu barreiras ditando-se novas tendências e segmentos em diversos âmbitos dos aspectos sócio comportamentais de gerações, que talvez em seu tempo sentissem tanta necessidade ou sede pelos "heróis" já citados. A lacuna provoca um alarde contagioso e, meio que naturalmente, vemos novos adeptos por simples modismo. 
Logo, uma avalanche de "novos" e póstumos fãs e seguidores se desencadeia como o rastro de um cometa povoando postagens em sua boa parte equivocadas ou de "corrente", sendo que também a boa leva dos protagonistas do fenômeno compartilhado de lamento de massa sequer conhece uma canção deste ser que partiu, como foi um caso recente do insuperável camaleão David Bowie, que numa coleção de mais de meio século de música, só esteve presente, ou talvez nunca, na vida de alguns com um ou dois hits (sim, alguns dos últimos seguidores sequer conheciam a versão da banda brasileira Nenhum de Nós para o clássico Starman, de 1974). 
Mas, também é algo compreensível com os fenômenos de massa. Talvez se tenha a impressão de que o artista encerrou a carreira quando não mais toca nas rádios do nosso país, o que mais se trata de uma manipulação midiática para um produto final que nos dias atuais se difere muito com o resultado qualidade onde algo novo realmente tenha se revelado. Estamos, no momento, preenchendo parte da grade televisiva com uma fábrica de novos artistas emergentes com virtuosismo vocal, frutos das cópias das franquias americanas e inglesas como o The Voice, onde o despertar e anoitecer destes gênios desaparecem tão rápido quanto o seu "reconhecimento", salvo alguns raros casos. 
Fica, portanto, a pergunta: desde o surgimento do Fama (2000) o que realmente esses realities têm nos dado como filhos artísticos, quer adultos ou, agora, mirins? A intenção não é desmerecer, mas se buscamos heróis, porque não cultivamos os vencedores? Pra onde deixamos ir a sua maioria? A função de um artista em si é apresentar artes (redundante não?), a criatividade de se fazer um trabalho interessante que consiga despertar a atenção das pessoas para novas perspectivas (o que vai ao ar na TV são repetições do que já está em voga – não há tom artístico nenhum nisso), para algo realmente novo, democratizando e desbravando o desconhecido, removendo-nos assim de uma zona de conforto, pois o ser humano por si só, é  novidadeiro e como tal, necessita sempre de algo realmente novo.

Texto publicado originalmente  no Parlamento PB