quinta-feira, 22 de outubro de 2015

POESIA EM ESTADO DE CHICO CESAR Nova turnê do paraibano passa por João Pessoa e arrebata corações!


A tour do show ‘Chico César Em Estado de Poesia’ finalmente chega ao estado natal do artista, assim como foi concebida, apresentada ao público na noite do último 17 de outubro, no Teatro Paulo Pontes, Espaço Cultural, em João Pessoa. O disco foi lançado após um silêncio de sete anos desde ‘Francisco Forró Y Frevo’ (2008). Silêncio, não! Chico tem uma obra rica e tenho os intervalos entre os disco como uma forma de apreço à obra. É fato que as coisas hoje em dia são descobertas, consumidas e esquecidas numa velocidade impressionante, mas o invicto senhor de menos de 1,60m de altura, possui uma aura e arte tão grandiosas que a falta de adjetivos é compreensível. O disco e o show foram resultado do investimento da Natura Music. Sim, a empresa de cosméticos vem patrocinando e promovendo projetos interessantíssimos ao longo desses anos. Imagine você! As grandes gravadoras se preocupam tão somente com números e modinhas bem passageiras e sem conteúdo algum e uma marca de produto de beleza, além de se preocupar com a estética de seus clientes, presenteia de forma massificada seus consumidores e simpatizantes com trabalhos primorosos, que prezam pelo conteúdo, harmonia e estética. Diga-se a verdade que a primeira artista a ter seu nome vinculado à marca foi Marisa Monte e o sucesso fez a empresa tomar gosto pela empreitada. E nós, que nos maravilhamos com essas joias, agradecemos!


         Estado de Poesia, um disco de encantos imediatos, com texturas e timbres de extremo bom gosto caem como uma luva na primeira audição. Como compositor, Chico continua apresentando dialetos do cotiano regional. "Caninana" é convite certeiro ao arrasta pé, enquanto que uma pintura de verdadeiros quadros sonoros é o caso de  "Caracajus" (onde até podemos visualizar a luz de uma telha quebrada num engenho antigo a produzir os sucos e melaços). Tal artifício promove de forma genial uma diagramação com os momentos do cotidiano. A redundância do amor romântico na deliciosa brincadeira de "Palavra Mágica" é o momento interessante do show, onde Chico falou: “o legal de tocar em casa é que a gente não precisa explicar palavras como 'Arengueira'”. Mas, é na canção "Estado de Poesia" (já gravada por Maria Bethânia) que vemos o poder ao mesmo tempo que sutil e avassalador da poesia de Chico. Os movimentos do artista ao entoar a música no palco são capazes de dissolver qualquer ice berg que o coração mais cínico e incrédulo possua ao seu redor e, até mesmo aqueles que nunca ouviram o disco na vida são arrebatados e arremessados ao seu reflexo interior... e a plateia tomada de assalto se vê compenetrada em lágrimas e simplicidade. É no palco, também, que a precisão do disco fica absurdamente funcional. Uma banda afiada de quatro músicos de base somados ao dinamismo do inclassificável Escurinho dão suporte, mas Chico, além de poeta é um virtuoso musicista  e é impossível não perceber a grandiosidade do show que se desenrola. "Museu" faz ode a lugares comuns da capital pessoense.  Em "Da Taça" temos um amor vadio, cheio de vontade e desprendimento e com a citação de "Onde Estará O Meu Amor" - do disco 'Beleza Mano' (1997) -  e nesse momento o recinto vai ao chão, com uma das indagações de amor mais belas já escritas. "Miaêro" traz em si um projeto simples, sonhador e salutar. Com "Guru" o axé invade os corações e a pacificação do cuidado com o místico/sagrado é fincado até nos mais descrentes dos seres presentes.  Fontes de inspirações locais estão evidenciadas pelo mestre em "Atravessa-Me". Em "Negão" é o momento mais ecumênico do show, quando Chico declara sua vontade de ver a palavra Negão na bandeira do estado “ao invés do não que os nossos irmãos de cor ouvem todos os santos (?) dias!” Neste momento "Mandela" (sucesso do disco Cuscuz Clã (1996) incendeia o teatro e o coração de quem presencia esta guerra fria que é o preconceito. O saudoso Torquato Neto é relembrado e tem um lugar musicado com versos atemporais em "Quero Viver". O simples apontar de Chico para o percussionista Escurinho dispensa a apresentação e a plateia ruge e ovaciona, quando, juntos, eles cantam "No Sumaré", com uma história verídica também batendo na tecla e na cara do preconceito e hipocrisia burguesa, tão evidentes em redes sociais.  "Alberto" traz ao disco e ao palco a presença de Seu Pereira dando um tom efusivo e festeiro ao show. A banda e o artista saem de cena e Chico volta munido de seu instrumento para o momento mais desafiante do show. Sim, a canção de mais de nove minutos de duração e letra tão longa, tal qual uma ‘Faroeste Caboclo’ (Legião Urbana) é executada sem poupar um verso sequer. A explosão de informações evidentes e de apelo urgente entoadas por Chico nos faz ficar face a face com questões ambientais/sociais de forma nua, crua e dura. A música em questão, "Reis do Agronegócio", iria ficar de fora do disco e foi incluída em último instante, por sua necessidade  tão evidente.
E o nosso artista encara a plateia e afirma, com toda firmeza “Que eu me alegraria se afinal morresse, esse sistema que nos causa tanto trauma”, sendo aplaudido em cena aberta tal qual um repentista que derrota seu opositor na elaboração de versos mais certeiros. Chico ainda nos dá de presente "Mama África" (presente em seu trabalho de debute, 'Aos Vivos') com direito a exaltação da canção "Brilho de Beleza' fincando de uma vez a importância da beleza negra nos olhos dos presentes que já dançavam e vibravam entregues a um dos show mais  exitosos de suas vidas. Houve até quem lembrasse de "À Primeira Vista", mas nesta nova instância e estado de poesia atual, Chico já disse a que veio, num momento certeiro, sem vista, apenas e tão somente com um visto certeiro. Axé!

Fotos do show: Pedro Lobo.
Capa do disco: Marcos Hermes.
Revisão do Texto: Jô Oliveira/Marcos Silva







terça-feira, 19 de maio de 2015

Grace Jones - Slave To The Rhythm 30 Anos!!!

O ANO ERA 1985 E O QUE SERIA O SÉTIMO DISCO DE UMA JÁ CONSOLIDADA CARREIRA DA MODELO E CANTORA JAMAICO-AMERICANA, GRACE JONES, FOI APENAS UMA MÚSICA QUE, COMO EXPERIMENTO FOI TRANSFORMADA EM LUXUOSAS SUÍTES QUE SE SUCEDEM E SE IMPÕEM NO DISCO, A CADA AUDIÇÃO. TUDO EM GRACE É PENSADO E IMORTALIZADO POR SUA DIMENSÃO ARTÍSTICA TANTO PARA A MÚSICA QUANTO PARA A IMAGEM. A DENOMINAÇÃO "POWER DRESSING" PARTIU DE SEUS CONCEITUADOS VISUAIS, QUE FICARAM POR VEZES A CARGO DE ANDY WARHOL, QUE A FOTOGRAVOU INCONTÁVEIS VEZES NO CÉLEBRE STUDIO 54 (NY) E TAMBÉM O TRABALHO COM JEAN-PAUL GOUDE (QUE ORIGINOU O LONGA "A ONE MAN SHOW"), DEIXANDO ASSIM O SEU TRABALHO CRAVADO NAS VERTENTES MUSICAIS E DA MODA.

PARA A PRODUÇÃO DO DISCO FOI RECRUTADO O MAESTRO TREVOR HON E SEU ASSISTENTE STEPHEN LIPSON (QUE MAIS TARDE AJUDARIA ANNIE LENNOX A PRODUZIR O DISCO DIVA). O RESULTADO DA CANÇÃO ESCRITA POR  BRUCE WOOLLEY, SIMON DARLOW, STEPHEN LIPSON E TREVOR HORN FOI UMA BRILHANTE VARIAÇÃO DE OITO TAKES COM SONORIDADES DIVERSIFICADAS, LUXUOSAS  E APROPRIADAS PARA DIVERSAS OCASIÕES, DESDE A ABERTURA COM A LEITURA DE UM TEXTO POR PAUL MORLEY ATÉ O SEU FINAL ONDE SE INTRODUZ... JONES... THE RHYTHM. APESAR DE NÃO ESTAR HOJE NO MAINSTREAM, GRACE CONTINUA PARTICIPANDO COMO CONVIDADA EM DESFILES DOS MAIORES NOMES DA INDÚSTRIA DA MODA, SE APRESENTA REGULARMENTE EM CLUBES NOTURNOS E É DEFINITIVAMENTE UMA REFERÊNCIA PARA QUALQUER CANTORA. O DISCO COMPLETA 30 ANOS E EXATAMENTE HOJE GRACE TAMBÉM COMPLETA 67 ANOS E PARECE TUDO TÃO NOVO E EXUBERANTE! ARTE EM ESTADO DE GRAÇA OU GRACE!

terça-feira, 24 de março de 2015

Grammy 2015 - Sam Smith X Hozier & Todo O Resto Desapercebido do POP Não Tão Popular....

O Grammy já passou e faz tempo, mas fiquei entalado com alguns "méritos" da cerimônia da música na terra do tio Sam. Ah, o Sam Smith, que alguns tablóides e "malas" apontaram como "a salvação da música dos últimos tempos/dias". Tenho simplesmente a dizer que na minha opinião (e acredito que de muita gente também) não é pra tanto! Seu mega hit "Stay With Me" me remete muito a "Cry For Help", do veterano Rick Astley, sendo que que 'Cry...' tem mais estrutura melódica e lírica do que a que vemos na premiada balada, que tem um verso (mui choroso) e um refrão grudento a la Pablo (sorry, fãs, mas não resisti à comparação). Na apresentação na cerimônia do Grammy a Diva Mary J. Blige coloca vida, e deixa mais evidente ainda a fraqueza da baladinha, que pedia algo mais para a sua majestosa voz. Outro fato que fica muito evidente (além da carência extrema de bons cancioneiros) é que o disco do moço teve as principais indicações da festa, o que significa que vendeu aos tubos, sim – afinal, o Grammy é prêmio de recompensa pra quem vende bem, ou muito. Gente, nem a cantora Sia levou um prêmio!!! Será que foi pelo fato dela cantar (artisticamente valorizando a performance de ilustração da canção 'Chandelier') de costas!!!??? Pecado!!!


O video do Rick Astley - Cry For Help

Outro estreante Hozier – recentemente, e finalmente (!) – colocou no mercado o seu disco de estreia, que merece, sim, todas as atenções. Fico me questionando, 'como um rapaz tão jovem pode conceber algo tão desafiador e equilibrado?!'. Ele, com sua voz de anjo vingador, despeja em nossos ouvidos poderosas canções com melodias sóbrias e, hummm... pop. É um trovador de dissabores, amores e outros bichos escrotos/estranhos relacionados aos amantes ardentes. Há presença de um clímax religioso nas entrelinhas, mas este vem de forma apocalíptica para a cura das dores, sem cair no clichê, pois sabemos que certas feridas causadas pelo tal do amor nem o tempo cicatriza. O que eu quero dizer é que o trabalho do Hozier soa, em sua elegância, sincero, honesto e singelo, ao mesmo tempo que devastador  e com efeito de uma Phoenix, em alguns momentos de desfecho de músicas. Que alívio que tenho (temos) o Hozier, porque nem só de dor de cotovelo vive o homem... mas, de toda palavra ou canção da boca de Hozier!!! Fly away, baby....please! Por favor!!!

Outro grande fator  notável que não foi notado pelo Grammy foi o último disco do front man do Culture Clube, o Boy George, que após anos e anos  estampando capas de tablóides, por uso de drogas, estar gordo, entre tantos outros bichos comuns que vemos no nosso cotidiano, ele "levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima", com um disco belíssimo e um visual que hoje o apresenta em sua melhor forma e momento. Mas... Não interessa, não é mesmo?! Outra coisa curiosa é nunca termos visto o brilhante Antony Hergaty, da banda 'Antony & The Johnsons', que, com 4 discos na praça, nunca foi mencionado – espero, sinceramente, que por desdém da parte dele, pois não é pra qualquer um, tamanho requinte e bom gosto. Mas, bem que poderia dar as caras e abrilhantar com seu talento nato, essa festa de Katy Perry e Beyoncé. Podia né? NÉ???!!!

O momento mais sublime do Boy George - King Of Everything