segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Annie Lennox - Nostalgia (2014)

Em setembro deste ano, em um salão que integra o  cemitério do museu da música, em Hollywood, houve a primeira audição do que seria a quebra do silêncio musical de Annie Lennox (seu último lançamento foi um álbum natalino de regravações de clássicos Carol´s), junto a uma entrevista onde, destemidamente, ela afirmou estar pronta para ser amada ou odiada. O motivo ainda estava por vir e, em meio a um mar de especulações e expectativas relacionadas ao repertório do novo projeto (que se manteve em segredo), tudo foi sendo misteriosamente e mui discretamente revelado por Annie com fotos em seu blog pessoal.


Por fim, abrem-se as cortinas e o mundo celebra, hoje, a chegada de NOSTALGIA (Island Records/Blue Note Records), um disco que traz a tímida cantora e ativista social relendo grandes clássicos de cunho jazzístico em canções como "I Put A Spell On You" (primeiro single lançado), que já foram regravadas por inúmeros grandes como Nina Simone, Billie Holiday, Ray Charles e Frank Sinatra. A explicação pela escolha do repertório (já tão habilmente trilhado) foi de que ela estava extremamente feliz com seu casamento, o trabalho filantrópico,  o ainda timebreak com os Eurythmics e com registros solos confessionais, como o orgulhoso Bare (2003), onde se sentia incapaz de escrever as canções que já conhecemos, como "Why" (Diva - 1992), onde um acerto de contas sentimental se desenrola sob forte pesar poético e chega aos nossos ouvidos como sussurros encantadores, na sua privilegiada garganta. E que maravilha que temos esta esfinge do pop nos brindando com estes clássicos (a procura por outras gravações é certa). É quase certo (se é que posso mencionar) que os grandes clássicos, apenas os ouvidos mais apurados conseguem deglutir. Mas, no caso de Nostalgia a abordagem tem seu equilíbrio emocional mencionado de forma sublime e sutil, por uma mulher que tem a ciência de seu instrumento vocal, sem grande firulas ou desafios artísticos, apenas as canções e sua visão pessoal das histórias contadas!



É fato que a voz não sofreu ação do tempo e que os arranjos descomplicados só realçam a  viagem nostálgica  (como o título sugere). Em "Summertime" a solidão do piano desliza em meio ao abandono de um ambiente meio iluminado apenas com uma janela aberta deixando uma cortina escura em movimento suave. Os backing vocals (sempre executados por ela) ainda estão presentes em algumas canções e dentre algumas aparições em TVs e sessões de autógrafos (com direito a muitos selfies do meus amigos virtuais/internacionais e até mesmo o Billy Idol [!], que arrasam meu coração a cada momento em que os vejo srsrsrs) o canal do Youtube da Annie já disponibilizou sessões ao vivo do disco, onde estão "I Put Spell On You", "Summertime", "Strange Fruit" e "Georgia On My Mind", que por sua vez exibem a cantora em um momento de pódio, com méritos dignos de uma personalidade tão simples e criativa como a sua. Alguns fãs já até declararam que é o seu melhor desempenho vocal. O formato acompanha também a volta do vinil – sim o disco foi primeiramente lançado sob sugestão da própria, no formato como era consumido outrora, mas também está disponível para download no Itunes, em CD, simple e Deluxe (o disco bônus conta  com uma entrevista em vídeo). Mas, é como ela mesma falou: “...senti a necessidade de registrar minha voz mais uma vez.” E que momentos como este continuem a se repetir através do tempo, quer presente ou nostalgicamente.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Turma do Balão Mágico (1984)





Os anos 80 foram brindados e presenteados com belíssimas canções, grupos sensacionais e uma geração que (como eu) bendiz com louvor o fato de a ter vivido. As coleções de papéis de carta, o fato de se escrever muitas cartas, o telefonema com o uso de fichas nos orelhões, as matinês (da Bobis Lanches – da minha cidade natal) as noites de  sábado na praça, o amor à praça, às pessoas (figuras das praças), o guaraná Taí, a pipoca doce, o algodão doce....

Na TV, o programa Globo de Ouro e toda a sua parada musical, nas manhãs, antes da “rainha dos baixinhos” brilhar, um grupo de 4 crianças em  sua formação mais clássica – dado a saber: Mike, Toby, Simony e Jairzinho – comandavam os programas infantis. O nome da fórmula de sucesso era A Turma do Balão Mágico, que neste ano entregava, há justos 30 anos, um disco infanto-juvenil  fabuloso, por assim dizer, recheado de convidados – porque, como o projeto Arca de Noé, de Vinícius de Moraes, era muito legal participar de um projeto tão precioso e sincero. Suas canções desafiam o tempo e o gosto popular. Roberto Carlos, "É tão Lindo", Baby do Brasil (eterna Consuelo) e Pepeu Gomes, " Mãe me dá um dinherinho" e Fábio Jr, "Amigos do peito" – e posso afirmar com toda força que são canções que estão em nosso inconsciente coletivo, tal qual o tema do grupo, "Super fantástico" (1983), que tem participação de Djavan e que nos remete a um mar de boas lembranças e emoções. Na produção, nos dias de hoje, posso notar orquestração e beleza nos arranjos. "Se enamora" é uma baladinha linda de cortar o coração, e "Quadrinhas e um refrão" é a canção tema de minhas peripércias no meu quintal. Afastar o sofá, tirar o tapete da sala e colocar a vitrola bem alto era algo feito com tanta dignidade e seriedade que dava gosto de se ver, era só ter uma simples desculpa. Música interpretada por crianças, para um público infantil e com o teor merecido.


O projeto ‘Adriana Partimpim’, da Adriana Calcanhotto (que estou a escutar esse mês), me remete muito a estas canções que povoam uma fase tão importante da vida de um  ser humano, pois acredito eu, que é nesta fase onde boa parte do caráter de um ser é moldado!  Em meio a formato exitoso, outros grupos se destacaram, como as crianças prodígio do grupo Trem da Alegria (que despontou a maravilhosa Patrícia Marx), Os Abelhudos e até mesmo os discos d’Os 3 Patinhos, rsrsrsr. O sucesso do ‘Balão’ rendeu 5 discos, um projeto paralelo da Simony e o Jairzinho, e uma nova formação, que acompanhou o fim do projeto e a chegada da Xuxa! Mas aí já é um outro capítulo, uma nova história...Termino o texto mui grato por ter vivido esta época e feliz por ter o prazer de preservá-la. Reproduzo um trechinho das palavras  de um encarte de disco da Elis Regina "Elis e Tom", que acaba de completar 40 anos: ..."Ficou a saudade de um passado recente, em que as cores eram outras e as pessoas mais felizes". Salve Turma do Balão Mágico.