terça-feira, 25 de novembro de 2014

Elba Ramalho - Do Jeito Que A Gente Gosta 30 Anos!!!

Sempre fico me perguntando o que será da obra de um artista quando ele obtém um êxito incrível com um determinado trabalho. É fato: discos geniais, que abordem uma determinada temática e resultam num disco cheio de hits e outras canções geniais, deixam o trabalho tão cheio de superlativos que fica quase impossível assimilar um projeto vindouro.  Nesse caso em específico, Elba Ramalho lançava, em 1983, o disco ‘Coração Brasileiro’ e o sucesso ‘Banho de Cheiro’ arrematou o Brasil de forma explosiva e insuperável. A partir daí, o que esperar? Sim, o trabalho, depois de exaustiva excursão e execução, fica saturado e era costume, nesta época, o artista lançar um disco a cada ano. Mas, isso nunca é problema para artistas como Elba, com as antenas voltadas para o universo e o que acontece nele. O disco ‘Do Jeito Que A Gente Gosta’ completa 30 anos e como tantos outros continua com um vigor e frescor (por vezes, com apelo urgente) dos trabalhos atuais que o nosso povo precisa tanto. Canções como ‘Forró do Poeirão’ e a faixa título deixam mais uma vez a festa garantida nos salões de forró. Há momentos românticos e de tradição, com arranjos sempre bem cuidados, deixando o material em estado de arte vibrante. A canção do disco que mais chamou a minha atenção, desde a primeira audição, foi ‘Nordeste Independente’ (que, na época, teve proibida sua execução em rádios e TVs)
que reproduzo abaixo:

Nordeste Independente 

(Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova)


Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola, o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Em Recife, o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
"Asa Branca" era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Nesse nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade
Tem o pão repartido na metade
Temo prato na mesa, a cama quente
Brasileiro será irmão da gente
Vai pra lá que será bem recebido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português
Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Povo do meu Brasil
Políticos brasileiros
Não pensem que vocês nos enganam
Porque nosso povo não é besta


Como ela diz em abordagem, “coisas engraçada evidentemente, mas totalmente cheias de um teor autêntico e urgente.” Salve Elba Ramalho!!!


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Eurythmics – 1984 For The Love Of The Big Brother Soundtrack


Neste mês completa também 30 anos o lançamento do filme 1984, do diretor Michael Radford, adaptação da obra original de George Orwell, escrita em 1949. A película fala de um mundo futuro dominado pela paranóia e a vigilância eletrônica, armas de manutenção de uma ditadura planetária e implacável   (indicação de meu amigo Flaviano – Star 61!). Sob encomenda da Virgin Films,  a trilha sonora original foi criada e executada por Annie Lennox (voz e vocais) e Dave Stewart (guitarras, teclados e produção) sob o título de ‘For The Love Of The Big Brother’, logo depois do estrondoso sucesso do disco anterior, ‘Touch’ (1983 – com o qual foram nº 1 nos EUA). Receber uma encomenda como esta era algo muito notório e ao mesmo tempo desafiador. Stewart chegou a declarar que o disco foi projetado para ser um dos grandes discos do Eurythmics (fora tomado um recorde de 20 dias, de tempo e energia  de ambos, compondo e arregimentando as canções). Pois bem, o disco ficou pronto o no momento da mixagem junto ao filme o diretor desistiu de usar a música do grupo alegando antipatia com o trabalho de ambos (confusão à vista). Dizem que é possível encontrar tiragens do filme onde a música do duo foi usada e a maior parte com a segunda opção de trilha orquestrada e, acompanhando o lançamento do disco (sim, ele foi lançado mesmo assim), viu-se uma torrente de argumentos, ataques e justificativas entre a produção do filme e o grupo visivelmente decepcionado. 




 Dois vídeos foram gravados para promover as canções ‘Sexcrime (1984)’  – irônica e controversamente  com cenas do filme ‘Julia’ – cujo plano de concepção foi usado em 1989, por Sinead O´Connor no clipe de ‘Nothing Compares 2U’. Do ponto de vista musical, o disco é muito bem elaborado e traz elementos percussivos e os vocais extremamente perfeccionistas de Lennox (que por sua vez dá uma ideia do quão genial podem ser os recursos de um estúdio), que chegam a beirar a world music. Trechos de frases dos personagens e fotos do filme estão por todo encarte, bem como entrelaçados em todas as canções, apesar da trilha em questão não ter sido inclusa na reedição da discografia do grupo (em comemoração aos 25 anos), acredito que por problemas contratuais, pois os vídeos já mencionados não mais fizeram parte na última coletânea que acompanhou o lançamento do Eurythmics Boxed. O tratamento de remasterização e artes internas desse trabalho (feito pela BMG, em 2005, sem lançamento em território brasileiro – e que na época me custou 500 pilas, hahahahaha) contem entrevistas onde os músicos falam com riqueza de detalhes sobre o processo de criação das obras, fotos inéditas, mas apenas em 1991 foram veiculados na coletânea Greatest Hits, que para mim ainda é um item sub entendido como parte da coleção oficial do grupo classe A!!!




terça-feira, 4 de novembro de 2014

Madonna - "Like A Virgin" (30 anos!) + Bedtime Stories (20 anos!)



Décadas se passaram e ainda temos notícias e frutos de uma das sobreviventes , representativas e criativas figuras do pop. Madonna Ciccone está na ativa há mais de 30 anos e a cada ano ainda consegue gerar expectativas em torno de seus futuros projetos e quebrar recordes.
Neste mês de novembro seu segundo álbum, ‘Like  A Virgin’ (Warner/Sire Records - 1984), completa 30 anos, produzido por Nile Rodgers (ele mesmo, o carinha da guitarra, do sucesso ‘Get Lucky’, do Daft Punk) e co-executado por músicos do classudo grupo Chic do qual o mesmo fazia parte. Após uma estreia esfuziante, o álbum auto intitulado Madonna apresentava a jovem rebelde e sonhadora  ao mundo com sonoridade disco, hits ‘Everybody’, ‘Lucky Star’, ‘Holiday’ e ‘Physical Atraction’, e uma representativa cifra de 9 milhões de cópias vendidas. Seu contrato com a Warner era de apenas 2 álbuns, mas até o momento o mega estrelato ainda não tinha sido alcançado. Sob forte pressão e expectativa, uma balada com letra áspera (no quesito moral e bons costumes) composta pelos ainda desconhecidos Billy Steinberg e Ton Kelly, ‘Like a Virgin’ era o carro chefe e base do que seria sua marca artística definitiva para inseri-la de forma notória no mundo do entretenimento mundial. Como sempre seus olhos  muito atentos desde o recrutamento do produtor (que tentou inutilmente de todos os modos a convencê-la a não gravar a baladinha cafona – por padrões musicais artísticos) ao fato de mudar drasticamente o direcionamento musical (que já estava vendendo tão bem) para algo mais consistente e fora dos padrões comerciais da época (sim, já existiam crises na indústria da música naquela época). Comprada a briga, entre murmúrios negativos nos escritórios da gravadora (que visava acima de tudo o faturamento), o disco foi produzido em 6 semanas mas ficou engavetado até que os frutos do primeiro trabalho se esvaíssem por completo. E mais um tabu estava para ser derrubado, pois era intimidador uma artista feminina, branca e iniciante com apenas um contrato de dois trabalhos conseguir se igualar aos medalhões como Prince (Purple Rain) e Michael Jackson (Thriller e seus já 25 milhões de discos comercializados) e a inevitável Cyndi Lauper (She´s So Unsual), também vale mencionar Lionel Ritchie (ex Commodores) e Chaka Khan. Podia ser, sim, desafiador mas não impossível. ‘Material Girl’, faixa de abertura, foi o hino pessoal da cantora nos anos 1980. Já ‘Like A Virgem’ implantou um novo comportamento e tal qual uma epidemia, diversas garotas apareciam vestidas e dispostas  a  revolucionar o mundo espelhadas em seu ídolo (tais imagens estão presentes no home video 'The Virgin Tou’, gravada no City Music Hall, numa excursão que ganhou proporção conforme os shows iam acontecendo). A prensagem do disco em alguns países (incluindo nosso sortudo Brasil) traziam a faixa ‘Into The Groove’ no repertório, resultado das portas abertas do cinema com o filme ‘Procura-se Susan Desesperadamente’. Outros destaques do disco são as faixas ‘Love Don’t Live Here Anymore’ de 1978, de Miles Gregory, que pilotou junto com Norman Withfiel a  trilha sonora da primeira montagem do filme ‘Car Wash’ e a esfuziante ‘Dress You Up’. Ela finalmente estava pronta e com o mundo nas mãos. Seu som era definido sob aspecto inovador para a época e uma nova estrela sacudiu o MTV Movie Awards com sua apresentação arrebatadora e cheia de sensualidade. A capa do disco ficou a cargo do fotógrafo e  amigo de longa data, Steven Meisel. Nos créditos do encarte o disco foi ironicamente dedicado a todas as virgens do mundo!!! Rsrsrsrs...



Anos se passaram e após 20 anos de carreira, muito bem trilhados, se firmando como um ícone que ‘não segue tendências, (sim, ela as dita!)’ é fato que, com tamanha responsabilidade e probabilidade sócio cultural a arte de Madonna quebrou também o que se costumava chamar de limites/tabus. No início da década de 1990 seu livro SEX, acompanhado do disco ‘Erotica’, fez um tremendo estardalhaço e seria muito complicado reinventar-se em meio a tantos cacos espalhados. Mas, aí está, mais uma vez, o quesito maestria – a qual a já experiente mulher de negócios sabia muito bem lidar. Esperava-se que se desse um tempo – para baixar a poeira, talvez, ou até mesmo se tramar uma nova estratégia de reinvenção. Mas não, o universo pop não tinha nada  que esperar e o faro da incansável mulher já estava atento ao que acontecia com a música, então um time improvável de produtores da moda, na linha do R&B moderno, era escalado para jogar por uma nova marca  chamada Madonna (!). Lembro que um amigo me falou, um dia, que ela se reinventava a cada disco: “é como se ela começasse uma nova carreira”. ‘Bedtime  Stories’ (Maverick/Sire Records/Warner – 1994) soou como um novo sopro e uma piscina clara e fresca de novas possibilidades sonoras e artísticas da, já não mais Material Girl. Canções como ‘Survival’ e ‘Human Nature’ ainda colocavam lenha na fogueira quanto a sua resposta a críticas duras sofridas no trabalho anterior, mas ao mesmo tempo mostrava uma artista madura (em brincar com sequências eletrônicas – como em ‘Don´t Stop’). ‘Secret’ é um momento ecumênico que coloca Madonna em pódio ainda inalcançável por suas seguidoras. Um momento inusitado do disco é a canção título (que não é tão título assim, rsrsrs), ‘Bedtime Story’), assinada por ninguém menos que Björk e produzida pelos caras (Nelle Hooper e seu assistente, Marius DeVries) responsáveis por sua gama sonora inconfundível. O vídeo para a canção é um dos seus mais primorosos visualmente e mais caro consequentemente (estima-se 5 milhões de dólares). ‘Take a Bow’ é co-escrita, produzida e cantada (com vocais discretos e sensuais) por Baby Face, que também fez o mesmo na charmosa ‘Forbiden Love’. ‘Inside Of Me’ é a minha favorita e o disco é cheio de samples (todos creditados claro!). Acredito que foi o último disco da tia ainda prensando no formato de vinil, sim o mercado começava a abrir mão de seu legado elegante  e artístico (muitos foram colocados em calçadas para serem levados juntos como lixo - fato extremamente lamentável) em lugar do novo, portátil, prático, límpido, digital e fofinho CD. Os estojos originais eram de um azul pastel e ao contrário do disco o encarte trazia muitas fotos da nova fase da musa. Há também o fato de duas prensagens da capa – item de colecionador, na certa – em que a posição da foto muda, quer para cima ou para baixo.

Foi meio improvável que artisticamente a soma dos talentos e mãos de um time de pessoas carimbadas dos estúdios (a saber, Nellee Hooper, Baby Face, Dallas Austin e Dave 'Jam'Hall) resultassem em um trabalho tão delicado e belo (e com a grande ‘responsa’ de recriar uma arista com a integridade profissional questionada no momento), claro que supervisionado cuidadosamente pela mulher dona de seus negócios.  Nos agradecimentos Madonna fala sobre o desafio de fazer um disco “tão arriscado”artisticamente (algo sempre presente em seus trabalhos) e ressalta a compreensão de antigos produtores (Shep Pettibone – que talvez, junto a muitos fãs, não tivessem entendido suas escolhas para o momento), ela também celebrava a abertura do seu selo Marverick, que traria entre as grandes surpresas Alanis Morissette e seu Jagged Little Pill. É talvez seu disco mais sutil e leve (e não vendeu muito bem comercialmente falando – ela sequer excursionou para promovê-lo), mas é cheio do talento e sensibilidade de uma senhora (dona de si), que sabe exatamente o que quer e que ainda traria muitas surpresas e novidades estéticas e sonoras nos anos vindouros, pois até aqui ainda eram os anos 90!!!
:)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Annie Lennox - Nostalgia (2014)

Em setembro deste ano, em um salão que integra o  cemitério do museu da música, em Hollywood, houve a primeira audição do que seria a quebra do silêncio musical de Annie Lennox (seu último lançamento foi um álbum natalino de regravações de clássicos Carol´s), junto a uma entrevista onde, destemidamente, ela afirmou estar pronta para ser amada ou odiada. O motivo ainda estava por vir e, em meio a um mar de especulações e expectativas relacionadas ao repertório do novo projeto (que se manteve em segredo), tudo foi sendo misteriosamente e mui discretamente revelado por Annie com fotos em seu blog pessoal.


Por fim, abrem-se as cortinas e o mundo celebra, hoje, a chegada de NOSTALGIA (Island Records/Blue Note Records), um disco que traz a tímida cantora e ativista social relendo grandes clássicos de cunho jazzístico em canções como "I Put A Spell On You" (primeiro single lançado), que já foram regravadas por inúmeros grandes como Nina Simone, Billie Holiday, Ray Charles e Frank Sinatra. A explicação pela escolha do repertório (já tão habilmente trilhado) foi de que ela estava extremamente feliz com seu casamento, o trabalho filantrópico,  o ainda timebreak com os Eurythmics e com registros solos confessionais, como o orgulhoso Bare (2003), onde se sentia incapaz de escrever as canções que já conhecemos, como "Why" (Diva - 1992), onde um acerto de contas sentimental se desenrola sob forte pesar poético e chega aos nossos ouvidos como sussurros encantadores, na sua privilegiada garganta. E que maravilha que temos esta esfinge do pop nos brindando com estes clássicos (a procura por outras gravações é certa). É quase certo (se é que posso mencionar) que os grandes clássicos, apenas os ouvidos mais apurados conseguem deglutir. Mas, no caso de Nostalgia a abordagem tem seu equilíbrio emocional mencionado de forma sublime e sutil, por uma mulher que tem a ciência de seu instrumento vocal, sem grande firulas ou desafios artísticos, apenas as canções e sua visão pessoal das histórias contadas!



É fato que a voz não sofreu ação do tempo e que os arranjos descomplicados só realçam a  viagem nostálgica  (como o título sugere). Em "Summertime" a solidão do piano desliza em meio ao abandono de um ambiente meio iluminado apenas com uma janela aberta deixando uma cortina escura em movimento suave. Os backing vocals (sempre executados por ela) ainda estão presentes em algumas canções e dentre algumas aparições em TVs e sessões de autógrafos (com direito a muitos selfies do meus amigos virtuais/internacionais e até mesmo o Billy Idol [!], que arrasam meu coração a cada momento em que os vejo srsrsrs) o canal do Youtube da Annie já disponibilizou sessões ao vivo do disco, onde estão "I Put Spell On You", "Summertime", "Strange Fruit" e "Georgia On My Mind", que por sua vez exibem a cantora em um momento de pódio, com méritos dignos de uma personalidade tão simples e criativa como a sua. Alguns fãs já até declararam que é o seu melhor desempenho vocal. O formato acompanha também a volta do vinil – sim o disco foi primeiramente lançado sob sugestão da própria, no formato como era consumido outrora, mas também está disponível para download no Itunes, em CD, simple e Deluxe (o disco bônus conta  com uma entrevista em vídeo). Mas, é como ela mesma falou: “...senti a necessidade de registrar minha voz mais uma vez.” E que momentos como este continuem a se repetir através do tempo, quer presente ou nostalgicamente.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Turma do Balão Mágico (1984)





Os anos 80 foram brindados e presenteados com belíssimas canções, grupos sensacionais e uma geração que (como eu) bendiz com louvor o fato de a ter vivido. As coleções de papéis de carta, o fato de se escrever muitas cartas, o telefonema com o uso de fichas nos orelhões, as matinês (da Bobis Lanches – da minha cidade natal) as noites de  sábado na praça, o amor à praça, às pessoas (figuras das praças), o guaraná Taí, a pipoca doce, o algodão doce....

Na TV, o programa Globo de Ouro e toda a sua parada musical, nas manhãs, antes da “rainha dos baixinhos” brilhar, um grupo de 4 crianças em  sua formação mais clássica – dado a saber: Mike, Toby, Simony e Jairzinho – comandavam os programas infantis. O nome da fórmula de sucesso era A Turma do Balão Mágico, que neste ano entregava, há justos 30 anos, um disco infanto-juvenil  fabuloso, por assim dizer, recheado de convidados – porque, como o projeto Arca de Noé, de Vinícius de Moraes, era muito legal participar de um projeto tão precioso e sincero. Suas canções desafiam o tempo e o gosto popular. Roberto Carlos, "É tão Lindo", Baby do Brasil (eterna Consuelo) e Pepeu Gomes, " Mãe me dá um dinherinho" e Fábio Jr, "Amigos do peito" – e posso afirmar com toda força que são canções que estão em nosso inconsciente coletivo, tal qual o tema do grupo, "Super fantástico" (1983), que tem participação de Djavan e que nos remete a um mar de boas lembranças e emoções. Na produção, nos dias de hoje, posso notar orquestração e beleza nos arranjos. "Se enamora" é uma baladinha linda de cortar o coração, e "Quadrinhas e um refrão" é a canção tema de minhas peripércias no meu quintal. Afastar o sofá, tirar o tapete da sala e colocar a vitrola bem alto era algo feito com tanta dignidade e seriedade que dava gosto de se ver, era só ter uma simples desculpa. Música interpretada por crianças, para um público infantil e com o teor merecido.


O projeto ‘Adriana Partimpim’, da Adriana Calcanhotto (que estou a escutar esse mês), me remete muito a estas canções que povoam uma fase tão importante da vida de um  ser humano, pois acredito eu, que é nesta fase onde boa parte do caráter de um ser é moldado!  Em meio a formato exitoso, outros grupos se destacaram, como as crianças prodígio do grupo Trem da Alegria (que despontou a maravilhosa Patrícia Marx), Os Abelhudos e até mesmo os discos d’Os 3 Patinhos, rsrsrsr. O sucesso do ‘Balão’ rendeu 5 discos, um projeto paralelo da Simony e o Jairzinho, e uma nova formação, que acompanhou o fim do projeto e a chegada da Xuxa! Mas aí já é um outro capítulo, uma nova história...Termino o texto mui grato por ter vivido esta época e feliz por ter o prazer de preservá-la. Reproduzo um trechinho das palavras  de um encarte de disco da Elis Regina "Elis e Tom", que acaba de completar 40 anos: ..."Ficou a saudade de um passado recente, em que as cores eram outras e as pessoas mais felizes". Salve Turma do Balão Mágico.

terça-feira, 18 de março de 2014

KID ABELHA E AS “NOSSAS CANÇÕES” - Celebrando 30 anos do primeiro disco, 20 anos do primeiro acústico e 10 anos de um disco dos anos 2000

O Kid Abelha, na minha mais pedante opinião, é a banda de rock brasileira mais fofa, e isso já tem quase 4 décadas!!! A vocalista que também é letrista e líder do negócio, bem como o som do grupo em questão, desafia o tempo o tempo todo – ela com seu corpo e aparência sempre jovial e o som da banda com hits avassaladores que nos arrebatam aos mais singelos sentimentos da condição humana. É fato que a poesia do Kid jamais se igualou à supra lírica de bandas como Legião Urbana, que também é contemporânea. O próprio Renato Russo chegou a declarar em uma entrevista, de uma forma muito singela, que “todas as músicas do Kid Abelha são nossas canções em algum momento”. Me lembro de um segundo momento em que acompanho a banda (sim, nasci na década de 80 e desde então vibro, sofro e grito com todos os discos que também fazem parte de minhas tantas outras coleções) em que um amigo do colegial (seu nome é Aritana e eu o achava genial – ele e o seu nome um tanto incomum) comentou que nem todas as letras “são tão bacanas” – bestinhas ele quis dizer de certa forma. 

Mas, o revestimento musical e a suma capacidade do conjunto de revesti-las com arranjos pop de corpo fantástico, sempre foi de fato o grande trunfo do Kid Abelha, que em 1984 lançando seu álbum de estréia ‘Seu Espião’ carregava um nome mais alongado, “Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens” e contava com mais um integrante (sim, eles não foram sempre um power trio) e após umas idas e  vindas, talvez por força de circunstância o nome foi encurtado e um membro desfalcado (até porque todas as bandas passam por isso... depois de, em suas garagens, tanto sonharem com o mega estrelato, com a chegada da fama e dinheiro, dá-se inicio um pseudo jogo de interesses e uma cafonice intelectual chamada ego vem e estraga com  tudo e sofremos nós, fãs,  com a dissolução de bandas fantásticas, que daria uma lista enorme para citar aqui e que no memento não vem ao caso). Voltando ao terceiro integrante... Falo do Leoni, que também é um fofo e foi responsável pelo mega e onipresente hit ‘Como Eu Quero’ das dez canções do LP debutante produzido pelo mago Liminha e 7 foram hinos radiofônicos populares que também rederam mídia no saudoso programa do “velho palhaço” Abelardo Barbosa – o Chacrinha (‘Seu Espião’, ‘Nada Tanto Assim’, ‘Alice’, ‘Fixação’, ‘Como Eu Quero’, ‘Porque Não Eu?’ e ‘Pintura Íntima’), que foram  cantados aos pulmões cheios e peito aberto por todas as idades e classes na maravilhosa década de 80!

Então, Paula Toller – Vocais, George Israel – Sax (apenas sax nesta época) Leoni – Baixo e Vocais e Bruno Fortunato – Guitarras, tinham os brasileiros aos seus pés e todos éramos ouvidos a canções que mais pareciam ter saído de um diário de adolescente. Outro detalhe é que Paulinha ainda tinha o cabelo preto, mas já exibia as curvinhas que Deus deu em micro vestidos também provocando a mente dos marmanjos, enquanto faziam coros com os deliciosos hits. O sucesso se manteve e veio o segundo disco “Educação Sentimental”(1985) – com o autotítulo, ‘Lágrimas de Chuva’, a deliciosa ‘Os outros’ e ‘A Fórmula do Amor’ . Logo depois, com o álbum “Ao Vivo” (1986) foi-se embora o integrante Leoni, com o nome “Abóboras Selvagens” e um saco de mágoas, creio eu... Na sequência “Tomate” (1987) - que teve 'Amanhã é 23' na minissérie O Sorriso do Largato, Kid (1989) – sim, tentaram tirar o Abelha nesta época (risos), e um “80´s Greatest Hits” (1990
) encerraram uma das décadas mais criativas da música no Brasil, isto ainda na minha singela opinião.

Os Anos 1990 foram recepcionados com o disco “Tudo é Permitido” (1991), com mais hits e aqui quero destacar ‘Grand´Hotel’ favorita de minha querida e experiente amiga Helena Paixão!!! Nunca vi um sobrenome casar tão bem com uma canção “favorita”. Seguindo, “Iê, Iê, Iê” (1993), que tem uma das minhas tantas favoritas ‘Em Noventa e Dois’ e mais um disco ao vivo chegou na praça, “Meio Desligado”(1994), inovando, claro, o tão já inovado som da banda e seus muitos, diversos clássicos. Quando a tão febril linha de acústicos da MTV ainda não tinha ganhado tanta força em nosso país brasileiro, o Kid Abelha veio com o um disco com sucessos “acusticados”e o resultado foi brilhante com a vibração de platéias e arranjos nunca experimentados para músicas com roupagens imaculadas. Artistas que davam continuidade ao seu trabalho desde os anos 1980 aparecem neste disco, como Ritchie, em ‘Como Eu Quero’ e Lulu Santos, numa regravação de ‘Canário do Reino’, uma espécie de faixa bônus, bem como ‘Nada Por Mim’ e ‘Solidão Que Nada’, do menor abandonado Cazuza. Este disco é definitivamente a trilha sonora de minha passagem da infância para juventude e tocou à exaustão, no carro, som e etc dos amigos Marcelo, Willian, Sidney e Moisés, no curso técnico. Lembro do disco estar entre os mais vendidos junto com Legião Urbana  (O Descobrimento do Brasil), Marisa Monte (Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão) e era um revival da década passada, passado a limpo para antigos e novos fãs do grupo.

Depois o povo some e se tranca  numa casinha num interior do Rio de Janeiro e nos dá de presente “Meu Mundo Gira Em Torno de Você” (1997) e me lembro da Janúbia Mendonça, sua irmã Janaína e eu cantando ‘Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)’, do Hyldon, regravado por este povo. O retorno foi seguido de “Auto Love” (1998) o projeto de covers “Coleção” (2000). Êpa! Chegamos aos anos 2000. Não tínhamos a realidade do filme “O Exterminador do Futuro”, com carros que voavam e andróides que dividiam espaço com humanos, mas tínhamos o Kid Abelha, ainda com muito som para os nossos ouvidos e o mais bacana disso tudo é que a banda não se rendeu a modismos e o som apenas ganhou recursos “mordeninhos”, mas a fórmula ainda era a do amor!!! “Surf” (2001) me deu ‘Eu Contra A Noite’ (não é, Anderson Noel?) e a MTV, já com um promissor e mercadológico arrebatador formato de disco ao vivo (o tal formato Acústico) acredito eu, um tanto equivocado para a banda (mais um ao vivo). E foi quando respiramos e celebramos nesta data/década os 10 anos do disco  “Pega Vida” (2004). 2007 houve o período em que Paula Toller lançou dois discos solos paralelos à banda e um DVD registrando este voo.

Uma década depois, um disco e uma turnê ao vivo foram lançados para comemorar os 30 anos (2012) de estrada . Eu e meus amigos Normando Júnior e Marcos Antonio fomos fãs iguais aos de tantas décadas quando fomos ao tal show de celebração – o meu primeiro show do Kid, com direito a chegada na grade 5 horas antes do show começar. E eu desejo à banda um tantão bem longo de anos, ainda com novos discos para estes jovens veteranos de ontem, hoje e sempre!!!


Salve Kid Abelha!!!