terça-feira, 1 de agosto de 2017

Disparate Nº 1 "Pessoal e Intransferível"

Uma das minhas últimas grandes descobertas é o fato de que alguém como eu (que já fez de tudo para chegar lá) estar avesso à super exposição nas redes sociais. Com tal constatação, saí numa jornada com ares épicos, ao mesmo tempo que chata e cansativa, de deletar fotos minhas no Facebook, bem como desmarcar postagens retroativas,  deixando assim a minha timeline limpa do meu rosto ou fotos onde eu esteja presente. Sim, passei a sentir um pouco de vergonha de estar expondo minhas excentricidades e meus passos! Talvez você chame isso de frustração, mas eu prefiro chamar de desapego. Ou seja, abri mão de uma vaidade momentânea que não tem me alimentado há anos. Afinal, felicidade é algo que se vive ou se sente, ou é algo que necessita de registros imediatos seguidos de curtidas?  A cada dia, quando digito a senha para logar a rede em questão, respiro fundo e procuro comentar menos posts diversos com assuntos de temas em ebulição. Sim, ando recusando um “mói” de solicitações de amizade (pois vou deixar pro RC a frase da canção de ter um milhão de amigos e blá, blá, blá). Com a mesma força, ando revisitando, bem como revisando, a necessidade de ter as páginas que sigo, ocultando certas imagens e chegando quase no fundo desse poço todo, e de arredio constato que uma nova flora seletiva se instaura no meu interior. Um mecanismo automático do FB são os quadros de lembrança. Aí vem a constatação de que não pensamos mais como há 5 anos, por exemplo. Vendo algumas imagens seguidas de certas frases,  fico a me perguntar: “como eu, pessoa física (!) pude lutar tanto por essa audiência particular”? Estou firme nesse propósito e ando praticando a vida fora desse âmbito. A necessidade do registro fotográfico tem caído por terra quase que em seu descarte imediato.

Tenho respirado, lido livros e ouvido, como sempre, muita música.  A minha passagem por esta subvida/midiática tem se tornado um tanto coesa e, posso até afirmar, um pouco mais interessante, pelo menos do ponto de vista dos meus olhos, já cansados. Seguindo este caminho sugerido pela minha pura saturação, redescubro objetos, frutos do meu desejo de outrora que quase caíram no descarte, até que esta descarga de retrospecção tenha me atingido. Estava me tornando um ser acumulador de coisas que não tinham o seu valor reconhecido. Fazer uma triagem na bagunça tem sido libertador. Mas será que esse caos teve a sua explosão na constatação do meu ser afogado na procura por me expor? Boba questão. A fumaça que talvez indicasse fogo, era apenas uma névoa que teimava em camuflar tudo aquilo que eu aspirei ser, mas que teve um vislumbre bobo, oriundo de uma vaidade tola e fútil, e que no fundo de mediocridade encontrou um rebento irradiado de transcrição e repaginamento pessoal. 

O meu saldo pode até ser negativo - ao me distanciar dos modismos-, mas fica uma sensação de alívio ao pode me reencontrar em meio ao rascunho de projetos pessoais que se perderam num desvio anti-intencional de um curso de um rio muito raso e, talvez, sem rumo certo, pois as rotas são alteradas a cada novidade sem profundidade. 

Um clipe do R.E.M me recordou um calendário em forma de toalha que tínhamos  na casa onde nasci. Na casa de frente, casa de uma madrinha que fabricava pirulitos artesanais de açúcar caramelizado, que se a gente não chupasse tudo o sol derreteria drasticamente toda a magia do formato. Também havia nesta casa, de frente com a minha, um quadro cheio de gravuras com o qual costumávamos brincar, eu e um dos meus melhores amigos, de "eu te venço" - tipo, eu te venço com um anjo soprando a vela de um barco...

Lembro que a toalha era cheia de detalhes, todos tão minuciosos que eu levava horas admirando. Tinha ainda uma árvore com diversas residências vivendo harmoniosamente, em lugar incomum.
Eu tenho essa imagem em minha mente neste exato momento. E você?

Vídeo do R.E.M - Imitation Of Life do disco Reveal, 2001.