quinta-feira, 28 de abril de 2016

Mãos à Obra!

Um vídeo postado nas redes sociais, ainda em 2015, deixou-me muito emocionado. O conteúdo exibia o discurso de uma artista negra, que começava recitando um texto de Harriet Tubman (também retroativo, pois data do ano 1800, mas tão atual e urgente), que dizia: “Na minha mente, eu vejo uma linha. Além dessa linha, vejo campos verdes e adoráveis flores, e lindas mulheres brancas com seus braços esticados para mim acima dessa linha, mas parece que eu não consigo chegar lá, parece que eu não consigo ultrapassar essa linha”. Viola Davis foi uma das primeiras atrizes negras a ganhar o cobiçado prêmio de melhor atriz dramática onde, em uma coleção de 67 edições do evento, a predominância para as vitoriosas da categoria era de mulheres de pele branca. Ela completa o seu discurso dizendo que "a única coisa que separa as mulheres negras de todas as outras é oportunidade".

Vídeo de Viola Davis


Pode soar repetitivo ou mesmo correr o risco de parecer rotulado, mas quero falar especificamente para as mulheres negras do meu estado, da minha terra, do meu lado. Ainda franzo a testa ao ver uma jovem querendo alisar o cabelo. Lembro, imediatamente, de minha prima branquinha e sua árdua luta para livrar o seu cabelo alisado à força de toda a química e o quanto ela chama atenção de outras cabeças com o resultado conquistado. Sim, cachos encaracolados de um cabelo preto, crespo, belo e saudável. Isso seria uma cereja no bolo de paradigmas enfrentados por dezenas de milhares de mulheres impostas por uma sociedade viciada em consumir o “veloz passageiro”.

Mulheres negras de força tamanha estão ao redor do nosso país fazendo suas revoluções e pouco confete é jogado em seus trabalhos. O retorno da sambista, de voz incomparável, Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo (Natura Music 2015) – é um exemplo, concreto, de toda a brasilidade da mulher, registrado na raça de uma sorevivente que tem um histórico feminino conturbado, mas que não maculou a sua dignidade e honra. Um trabalho de temas que, devido ao seu teor realista, nunca irão tocar no rádio, mas sabemos que os assuntos existem, estão em "voga" e, assim como certos aprendizados de vida, nunca entrarão em currículos escolares. A arte está em toda parte para que tenhamos novas possibilidades, para que possamos driblar a inevitável vida e seus obstáculos com criatividade, para nos renovar, para nos/te dar a tal “Oportunidade”! Orgulhe-se de seus feitos, de sua disposição, de seu caráter, orgulhe-se, sim, dos seus cabelos e, principalmente, do que você verdadeiramente é!

Texto publicado originalmente no Parlamento PB.

Nenhum comentário:

Postar um comentário