quinta-feira, 28 de abril de 2016

O ser humano é órfão!

Ultimamente, temos nos deparado com frequência, meio que frenética, com a notícia da partida de muitos artistas conhecidos do grande público, ou não. Quando falo ‘grande público’, refiro-me ao nosso público brasileiro, que tem atestadamente se alarmado com números imprescindíveis quanto à necessidade de heróis de um modo em geral. Enxergo essa necessidade como uma carência. Sim, a arte também pode ser pragmática se rotularmos qualquer movimento de alcance de massa como arte. Nas redes sociais, a partida de ídolos que em sua grande parte vem de uma linhagem onde o conceito autoral rompeu barreiras ditando-se novas tendências e segmentos em diversos âmbitos dos aspectos sócio comportamentais de gerações, que talvez em seu tempo sentissem tanta necessidade ou sede pelos "heróis" já citados. A lacuna provoca um alarde contagioso e, meio que naturalmente, vemos novos adeptos por simples modismo. 
Logo, uma avalanche de "novos" e póstumos fãs e seguidores se desencadeia como o rastro de um cometa povoando postagens em sua boa parte equivocadas ou de "corrente", sendo que também a boa leva dos protagonistas do fenômeno compartilhado de lamento de massa sequer conhece uma canção deste ser que partiu, como foi um caso recente do insuperável camaleão David Bowie, que numa coleção de mais de meio século de música, só esteve presente, ou talvez nunca, na vida de alguns com um ou dois hits (sim, alguns dos últimos seguidores sequer conheciam a versão da banda brasileira Nenhum de Nós para o clássico Starman, de 1974). 
Mas, também é algo compreensível com os fenômenos de massa. Talvez se tenha a impressão de que o artista encerrou a carreira quando não mais toca nas rádios do nosso país, o que mais se trata de uma manipulação midiática para um produto final que nos dias atuais se difere muito com o resultado qualidade onde algo novo realmente tenha se revelado. Estamos, no momento, preenchendo parte da grade televisiva com uma fábrica de novos artistas emergentes com virtuosismo vocal, frutos das cópias das franquias americanas e inglesas como o The Voice, onde o despertar e anoitecer destes gênios desaparecem tão rápido quanto o seu "reconhecimento", salvo alguns raros casos. 
Fica, portanto, a pergunta: desde o surgimento do Fama (2000) o que realmente esses realities têm nos dado como filhos artísticos, quer adultos ou, agora, mirins? A intenção não é desmerecer, mas se buscamos heróis, porque não cultivamos os vencedores? Pra onde deixamos ir a sua maioria? A função de um artista em si é apresentar artes (redundante não?), a criatividade de se fazer um trabalho interessante que consiga despertar a atenção das pessoas para novas perspectivas (o que vai ao ar na TV são repetições do que já está em voga – não há tom artístico nenhum nisso), para algo realmente novo, democratizando e desbravando o desconhecido, removendo-nos assim de uma zona de conforto, pois o ser humano por si só, é  novidadeiro e como tal, necessita sempre de algo realmente novo.

Texto publicado originalmente  no Parlamento PB

Nenhum comentário:

Postar um comentário