quinta-feira, 28 de abril de 2016

TV para quê?



Na época dos nossos avós, ou até mesmo bem antes deles, o rádio - em sua modulação AM - era uma das fontes funcionais de comunicação e entretimento dos lares e, cerimonialmente, todos se reuniam em volta do objeto para ouvir os cantores do rádio e até novelas que eram encenadas nos clássicos estúdios. Então, a TV

chegou e bagunçou com a transição do rádio. Um mar de perspectivas e acontecimentos se desenrolou com tanta praticidade e frescor que a predominância trouxe, em si, uma grade onde a primazia pela qualidade, de certa forma, imperou. Tivemos os grandes festivais da canção propiciadores de espetáculos que revelaram nomes que se consagraram para eternidade, como é o caso da pimentinha Elis Regia, Jair Rodrigues, Chico Buarque, Mutantes, Gal Costa, dentre outros tantos.

O tempo foi passando. Passaram também novelas, programas de auditórios e a máquina do dinheiro começou a girar mais rápido. Algo muito comum no ser humano, habitualmente, é a gana de sempre se ganhar mais. Então, o quesito qualidade começou a passar para segundo plano e o foco passou a ser a audiência. Mas esta questão foi tão levada a sério ao longo desses anos que chegamos a um ponto estarrecedor. Tudo hoje na TV é um reflexo modulado, exageradamente, de planos pilotos lançados em vitrines fora do nosso eixo e que acabam por provocar um comportamento fantasioso por parte dos espectadores, como é o caso do Big Brother Brasil, que promove desde suas primeiras edições um verdadeiro arsenal de bizarrices comportamentais. Acredito que um programa como esse tenha realmente uma direção, pois, como já vimos, não é fácil prender a audiência sem uma boa trama, tudo muito bem selecionado, desde os participantes daqueles icônicos mais explosivos aos polêmicos, para serem dosados com fitness e zens presentes na casa. Mas calma, pois nem tudo é só mediocridade, já que no meio do mar há um bote com uma Minissérie aqui, outra acolá, talvez para mostrar quão grandiosa a grade de entretenimento poderia ser. O fato mais interessante de tudo é o alcance de pessoas ligadas na atração, o que deixamos de produzir quando damos audiência a algo tão sem propósito para o nosso crescimento interior. Observe que hoje, mesmo com tanta banalidade exposta, conseguimos fazer as nossas refeições vendo violência e corpos estirados no chão das nossas cidades. A questão da informação é inevitável, mas para quê ela serve de fato? Onde entra o discernimento para nos resguardarmos e optarmos pelo o que é melhor ou ruim para nós mesmos?

E mais uma vez o advento da internet e suas redes sociais devastaram com a briga pela audiência. Sim, agora cada um batalha por likes, curtidas, visualizações, visitas etc. É assustadoramente comum a veiculação de vídeos (o cinegrafista é o próprio repórter empunhando seu celular e dando o seu parecer “imparcial” acerca do fato que se desenrola na cena), fotos e áudios em seus mais puros e estúpidos conteúdos, em troca de atenção instantânea, passageira e a troco de nada.

Nas redes sociais, o fator surpresa do ser humano vem à tona com xingamentos e o desembaraçar de opiniões que se julgam as mais coesas e tangíveis de defesa até com os próprios dentes. E nesse pacote há de um tudo: assuntos religiosos, políticos e étnicos. De um outro lado, os mesmos internautas “intelectuais” burlam a lei com aquele tal "jeitinho brasileiro" com o uso de aplicativos para "alertar" colegas irregulares perante suas obrigações sociais de uma possível blitz. Ora, o embriagado, ou bandido, pode visualizar a mensagem, desviar e acertar o alvo: eu ou alguém de sua própria família! Há pessoas que não sabem avaliar uma informação, ter um senso crítico e, assim, nos vemos em um momento de ressaca de uma euforia, resultado da incapacidade do diálogo; de gente vomitando conceito, radicalismo e se achando no direito de não escutar nada. As pessoas estão adormecendo na queixa e na reclamação. Fato! Estamos oscilando muito entre a esperança e o desespero. O ponto é: até onde é engraçado levar/exaltar banalidade para "aliviar o peso dos dias"? O que nos faz ter direito de opinar, julgar e até apedrejar o nosso semelhante com tanto destemor? O poeta já escreveu certo dia: "que você saiba que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero". Para finalizar, ainda repito a frase de um post, de autoria desconhecida, onde um mar de consciência se desenrola em poucas palavras: "Em um lugar onde não há atividades culturais, a violência vira espetáculo". Precisamos, sim, investir em educação, tecnologia e em cultura, pois essas ferramentas, combinadas adequadamente, possibilitarão a formação de um bom raciocínio crítico.

Texto publicado originalmente no Parlamento PB.

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