quinta-feira, 22 de outubro de 2015

POESIA EM ESTADO DE CHICO CESAR Nova turnê do paraibano passa por João Pessoa e arrebata corações!


A tour do show ‘Chico César Em Estado de Poesia’ finalmente chega ao estado natal do artista, assim como foi concebida, apresentada ao público na noite do último 17 de outubro, no Teatro Paulo Pontes, Espaço Cultural, em João Pessoa. O disco foi lançado após um silêncio de sete anos desde ‘Francisco Forró Y Frevo’ (2008). Silêncio, não! Chico tem uma obra rica e tenho os intervalos entre os disco como uma forma de apreço à obra. É fato que as coisas hoje em dia são descobertas, consumidas e esquecidas numa velocidade impressionante, mas o invicto senhor de menos de 1,60m de altura, possui uma aura e arte tão grandiosas que a falta de adjetivos é compreensível. O disco e o show foram resultado do investimento da Natura Music. Sim, a empresa de cosméticos vem patrocinando e promovendo projetos interessantíssimos ao longo desses anos. Imagine você! As grandes gravadoras se preocupam tão somente com números e modinhas bem passageiras e sem conteúdo algum e uma marca de produto de beleza, além de se preocupar com a estética de seus clientes, presenteia de forma massificada seus consumidores e simpatizantes com trabalhos primorosos, que prezam pelo conteúdo, harmonia e estética. Diga-se a verdade que a primeira artista a ter seu nome vinculado à marca foi Marisa Monte e o sucesso fez a empresa tomar gosto pela empreitada. E nós, que nos maravilhamos com essas joias, agradecemos!


         Estado de Poesia, um disco de encantos imediatos, com texturas e timbres de extremo bom gosto caem como uma luva na primeira audição. Como compositor, Chico continua apresentando dialetos do cotiano regional. "Caninana" é convite certeiro ao arrasta pé, enquanto que uma pintura de verdadeiros quadros sonoros é o caso de  "Caracajus" (onde até podemos visualizar a luz de uma telha quebrada num engenho antigo a produzir os sucos e melaços). Tal artifício promove de forma genial uma diagramação com os momentos do cotidiano. A redundância do amor romântico na deliciosa brincadeira de "Palavra Mágica" é o momento interessante do show, onde Chico falou: “o legal de tocar em casa é que a gente não precisa explicar palavras como 'Arengueira'”. Mas, é na canção "Estado de Poesia" (já gravada por Maria Bethânia) que vemos o poder ao mesmo tempo que sutil e avassalador da poesia de Chico. Os movimentos do artista ao entoar a música no palco são capazes de dissolver qualquer ice berg que o coração mais cínico e incrédulo possua ao seu redor e, até mesmo aqueles que nunca ouviram o disco na vida são arrebatados e arremessados ao seu reflexo interior... e a plateia tomada de assalto se vê compenetrada em lágrimas e simplicidade. É no palco, também, que a precisão do disco fica absurdamente funcional. Uma banda afiada de quatro músicos de base somados ao dinamismo do inclassificável Escurinho dão suporte, mas Chico, além de poeta é um virtuoso musicista  e é impossível não perceber a grandiosidade do show que se desenrola. "Museu" faz ode a lugares comuns da capital pessoense.  Em "Da Taça" temos um amor vadio, cheio de vontade e desprendimento e com a citação de "Onde Estará O Meu Amor" - do disco 'Beleza Mano' (1997) -  e nesse momento o recinto vai ao chão, com uma das indagações de amor mais belas já escritas. "Miaêro" traz em si um projeto simples, sonhador e salutar. Com "Guru" o axé invade os corações e a pacificação do cuidado com o místico/sagrado é fincado até nos mais descrentes dos seres presentes.  Fontes de inspirações locais estão evidenciadas pelo mestre em "Atravessa-Me". Em "Negão" é o momento mais ecumênico do show, quando Chico declara sua vontade de ver a palavra Negão na bandeira do estado “ao invés do não que os nossos irmãos de cor ouvem todos os santos (?) dias!” Neste momento "Mandela" (sucesso do disco Cuscuz Clã (1996) incendeia o teatro e o coração de quem presencia esta guerra fria que é o preconceito. O saudoso Torquato Neto é relembrado e tem um lugar musicado com versos atemporais em "Quero Viver". O simples apontar de Chico para o percussionista Escurinho dispensa a apresentação e a plateia ruge e ovaciona, quando, juntos, eles cantam "No Sumaré", com uma história verídica também batendo na tecla e na cara do preconceito e hipocrisia burguesa, tão evidentes em redes sociais.  "Alberto" traz ao disco e ao palco a presença de Seu Pereira dando um tom efusivo e festeiro ao show. A banda e o artista saem de cena e Chico volta munido de seu instrumento para o momento mais desafiante do show. Sim, a canção de mais de nove minutos de duração e letra tão longa, tal qual uma ‘Faroeste Caboclo’ (Legião Urbana) é executada sem poupar um verso sequer. A explosão de informações evidentes e de apelo urgente entoadas por Chico nos faz ficar face a face com questões ambientais/sociais de forma nua, crua e dura. A música em questão, "Reis do Agronegócio", iria ficar de fora do disco e foi incluída em último instante, por sua necessidade  tão evidente.
E o nosso artista encara a plateia e afirma, com toda firmeza “Que eu me alegraria se afinal morresse, esse sistema que nos causa tanto trauma”, sendo aplaudido em cena aberta tal qual um repentista que derrota seu opositor na elaboração de versos mais certeiros. Chico ainda nos dá de presente "Mama África" (presente em seu trabalho de debute, 'Aos Vivos') com direito a exaltação da canção "Brilho de Beleza' fincando de uma vez a importância da beleza negra nos olhos dos presentes que já dançavam e vibravam entregues a um dos show mais  exitosos de suas vidas. Houve até quem lembrasse de "À Primeira Vista", mas nesta nova instância e estado de poesia atual, Chico já disse a que veio, num momento certeiro, sem vista, apenas e tão somente com um visto certeiro. Axé!

Fotos do show: Pedro Lobo.
Capa do disco: Marcos Hermes.
Revisão do Texto: Jô Oliveira/Marcos Silva







terça-feira, 19 de maio de 2015

Grace Jones - Slave To The Rhythm 30 Anos!!!

O ANO ERA 1985 E O QUE SERIA O SÉTIMO DISCO DE UMA JÁ CONSOLIDADA CARREIRA DA MODELO E CANTORA JAMAICO-AMERICANA, GRACE JONES, FOI APENAS UMA MÚSICA QUE, COMO EXPERIMENTO FOI TRANSFORMADA EM LUXUOSAS SUÍTES QUE SE SUCEDEM E SE IMPÕEM NO DISCO, A CADA AUDIÇÃO. TUDO EM GRACE É PENSADO E IMORTALIZADO POR SUA DIMENSÃO ARTÍSTICA TANTO PARA A MÚSICA QUANTO PARA A IMAGEM. A DENOMINAÇÃO "POWER DRESSING" PARTIU DE SEUS CONCEITUADOS VISUAIS, QUE FICARAM POR VEZES A CARGO DE ANDY WARHOL, QUE A FOTOGRAVOU INCONTÁVEIS VEZES NO CÉLEBRE STUDIO 54 (NY) E TAMBÉM O TRABALHO COM JEAN-PAUL GOUDE (QUE ORIGINOU O LONGA "A ONE MAN SHOW"), DEIXANDO ASSIM O SEU TRABALHO CRAVADO NAS VERTENTES MUSICAIS E DA MODA.

PARA A PRODUÇÃO DO DISCO FOI RECRUTADO O MAESTRO TREVOR HON E SEU ASSISTENTE STEPHEN LIPSON (QUE MAIS TARDE AJUDARIA ANNIE LENNOX A PRODUZIR O DISCO DIVA). O RESULTADO DA CANÇÃO ESCRITA POR  BRUCE WOOLLEY, SIMON DARLOW, STEPHEN LIPSON E TREVOR HORN FOI UMA BRILHANTE VARIAÇÃO DE OITO TAKES COM SONORIDADES DIVERSIFICADAS, LUXUOSAS  E APROPRIADAS PARA DIVERSAS OCASIÕES, DESDE A ABERTURA COM A LEITURA DE UM TEXTO POR PAUL MORLEY ATÉ O SEU FINAL ONDE SE INTRODUZ... JONES... THE RHYTHM. APESAR DE NÃO ESTAR HOJE NO MAINSTREAM, GRACE CONTINUA PARTICIPANDO COMO CONVIDADA EM DESFILES DOS MAIORES NOMES DA INDÚSTRIA DA MODA, SE APRESENTA REGULARMENTE EM CLUBES NOTURNOS E É DEFINITIVAMENTE UMA REFERÊNCIA PARA QUALQUER CANTORA. O DISCO COMPLETA 30 ANOS E EXATAMENTE HOJE GRACE TAMBÉM COMPLETA 67 ANOS E PARECE TUDO TÃO NOVO E EXUBERANTE! ARTE EM ESTADO DE GRAÇA OU GRACE!

terça-feira, 24 de março de 2015

Grammy 2015 - Sam Smith X Hozier & Todo O Resto Desapercebido do POP Não Tão Popular....

O Grammy já passou e faz tempo, mas fiquei entalado com alguns "méritos" da cerimônia da música na terra do tio Sam. Ah, o Sam Smith, que alguns tablóides e "malas" apontaram como "a salvação da música dos últimos tempos/dias". Tenho simplesmente a dizer que na minha opinião (e acredito que de muita gente também) não é pra tanto! Seu mega hit "Stay With Me" me remete muito a "Cry For Help", do veterano Rick Astley, sendo que que 'Cry...' tem mais estrutura melódica e lírica do que a que vemos na premiada balada, que tem um verso (mui choroso) e um refrão grudento a la Pablo (sorry, fãs, mas não resisti à comparação). Na apresentação na cerimônia do Grammy a Diva Mary J. Blige coloca vida, e deixa mais evidente ainda a fraqueza da baladinha, que pedia algo mais para a sua majestosa voz. Outro fato que fica muito evidente (além da carência extrema de bons cancioneiros) é que o disco do moço teve as principais indicações da festa, o que significa que vendeu aos tubos, sim – afinal, o Grammy é prêmio de recompensa pra quem vende bem, ou muito. Gente, nem a cantora Sia levou um prêmio!!! Será que foi pelo fato dela cantar (artisticamente valorizando a performance de ilustração da canção 'Chandelier') de costas!!!??? Pecado!!!


O video do Rick Astley - Cry For Help

Outro estreante Hozier – recentemente, e finalmente (!) – colocou no mercado o seu disco de estreia, que merece, sim, todas as atenções. Fico me questionando, 'como um rapaz tão jovem pode conceber algo tão desafiador e equilibrado?!'. Ele, com sua voz de anjo vingador, despeja em nossos ouvidos poderosas canções com melodias sóbrias e, hummm... pop. É um trovador de dissabores, amores e outros bichos escrotos/estranhos relacionados aos amantes ardentes. Há presença de um clímax religioso nas entrelinhas, mas este vem de forma apocalíptica para a cura das dores, sem cair no clichê, pois sabemos que certas feridas causadas pelo tal do amor nem o tempo cicatriza. O que eu quero dizer é que o trabalho do Hozier soa, em sua elegância, sincero, honesto e singelo, ao mesmo tempo que devastador  e com efeito de uma Phoenix, em alguns momentos de desfecho de músicas. Que alívio que tenho (temos) o Hozier, porque nem só de dor de cotovelo vive o homem... mas, de toda palavra ou canção da boca de Hozier!!! Fly away, baby....please! Por favor!!!

Outro grande fator  notável que não foi notado pelo Grammy foi o último disco do front man do Culture Clube, o Boy George, que após anos e anos  estampando capas de tablóides, por uso de drogas, estar gordo, entre tantos outros bichos comuns que vemos no nosso cotidiano, ele "levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima", com um disco belíssimo e um visual que hoje o apresenta em sua melhor forma e momento. Mas... Não interessa, não é mesmo?! Outra coisa curiosa é nunca termos visto o brilhante Antony Hergaty, da banda 'Antony & The Johnsons', que, com 4 discos na praça, nunca foi mencionado – espero, sinceramente, que por desdém da parte dele, pois não é pra qualquer um, tamanho requinte e bom gosto. Mas, bem que poderia dar as caras e abrilhantar com seu talento nato, essa festa de Katy Perry e Beyoncé. Podia né? NÉ???!!!

O momento mais sublime do Boy George - King Of Everything




terça-feira, 25 de novembro de 2014

Elba Ramalho - Do Jeito Que A Gente Gosta 30 Anos!!!

Sempre fico me perguntando o que será da obra de um artista quando ele obtém um êxito incrível com um determinado trabalho. É fato: discos geniais, que abordem uma determinada temática e resultam num disco cheio de hits e outras canções geniais, deixam o trabalho tão cheio de superlativos que fica quase impossível assimilar um projeto vindouro.  Nesse caso em específico, Elba Ramalho lançava, em 1983, o disco ‘Coração Brasileiro’ e o sucesso ‘Banho de Cheiro’ arrematou o Brasil de forma explosiva e insuperável. A partir daí, o que esperar? Sim, o trabalho, depois de exaustiva excursão e execução, fica saturado e era costume, nesta época, o artista lançar um disco a cada ano. Mas, isso nunca é problema para artistas como Elba, com as antenas voltadas para o universo e o que acontece nele. O disco ‘Do Jeito Que A Gente Gosta’ completa 30 anos e como tantos outros continua com um vigor e frescor (por vezes, com apelo urgente) dos trabalhos atuais que o nosso povo precisa tanto. Canções como ‘Forró do Poeirão’ e a faixa título deixam mais uma vez a festa garantida nos salões de forró. Há momentos românticos e de tradição, com arranjos sempre bem cuidados, deixando o material em estado de arte vibrante. A canção do disco que mais chamou a minha atenção, desde a primeira audição, foi ‘Nordeste Independente’ (que, na época, teve proibida sua execução em rádios e TVs)
que reproduzo abaixo:

Nordeste Independente 

(Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova)


Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola, o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Em Recife, o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
"Asa Branca" era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Nesse nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade
Tem o pão repartido na metade
Temo prato na mesa, a cama quente
Brasileiro será irmão da gente
Vai pra lá que será bem recebido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português
Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Povo do meu Brasil
Políticos brasileiros
Não pensem que vocês nos enganam
Porque nosso povo não é besta


Como ela diz em abordagem, “coisas engraçada evidentemente, mas totalmente cheias de um teor autêntico e urgente.” Salve Elba Ramalho!!!


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Eurythmics – 1984 For The Love Of The Big Brother Soundtrack


Neste mês completa também 30 anos o lançamento do filme 1984, do diretor Michael Radford, adaptação da obra original de George Orwell, escrita em 1949. A película fala de um mundo futuro dominado pela paranóia e a vigilância eletrônica, armas de manutenção de uma ditadura planetária e implacável   (indicação de meu amigo Flaviano – Star 61!). Sob encomenda da Virgin Films,  a trilha sonora original foi criada e executada por Annie Lennox (voz e vocais) e Dave Stewart (guitarras, teclados e produção) sob o título de ‘For The Love Of The Big Brother’, logo depois do estrondoso sucesso do disco anterior, ‘Touch’ (1983 – com o qual foram nº 1 nos EUA). Receber uma encomenda como esta era algo muito notório e ao mesmo tempo desafiador. Stewart chegou a declarar que o disco foi projetado para ser um dos grandes discos do Eurythmics (fora tomado um recorde de 20 dias, de tempo e energia  de ambos, compondo e arregimentando as canções). Pois bem, o disco ficou pronto o no momento da mixagem junto ao filme o diretor desistiu de usar a música do grupo alegando antipatia com o trabalho de ambos (confusão à vista). Dizem que é possível encontrar tiragens do filme onde a música do duo foi usada e a maior parte com a segunda opção de trilha orquestrada e, acompanhando o lançamento do disco (sim, ele foi lançado mesmo assim), viu-se uma torrente de argumentos, ataques e justificativas entre a produção do filme e o grupo visivelmente decepcionado. 




 Dois vídeos foram gravados para promover as canções ‘Sexcrime (1984)’  – irônica e controversamente  com cenas do filme ‘Julia’ – cujo plano de concepção foi usado em 1989, por Sinead O´Connor no clipe de ‘Nothing Compares 2U’. Do ponto de vista musical, o disco é muito bem elaborado e traz elementos percussivos e os vocais extremamente perfeccionistas de Lennox (que por sua vez dá uma ideia do quão genial podem ser os recursos de um estúdio), que chegam a beirar a world music. Trechos de frases dos personagens e fotos do filme estão por todo encarte, bem como entrelaçados em todas as canções, apesar da trilha em questão não ter sido inclusa na reedição da discografia do grupo (em comemoração aos 25 anos), acredito que por problemas contratuais, pois os vídeos já mencionados não mais fizeram parte na última coletânea que acompanhou o lançamento do Eurythmics Boxed. O tratamento de remasterização e artes internas desse trabalho (feito pela BMG, em 2005, sem lançamento em território brasileiro – e que na época me custou 500 pilas, hahahahaha) contem entrevistas onde os músicos falam com riqueza de detalhes sobre o processo de criação das obras, fotos inéditas, mas apenas em 1991 foram veiculados na coletânea Greatest Hits, que para mim ainda é um item sub entendido como parte da coleção oficial do grupo classe A!!!




terça-feira, 4 de novembro de 2014

Madonna - "Like A Virgin" (30 anos!) + Bedtime Stories (20 anos!)



Décadas se passaram e ainda temos notícias e frutos de uma das sobreviventes , representativas e criativas figuras do pop. Madonna Ciccone está na ativa há mais de 30 anos e a cada ano ainda consegue gerar expectativas em torno de seus futuros projetos e quebrar recordes.
Neste mês de novembro seu segundo álbum, ‘Like  A Virgin’ (Warner/Sire Records - 1984), completa 30 anos, produzido por Nile Rodgers (ele mesmo, o carinha da guitarra, do sucesso ‘Get Lucky’, do Daft Punk) e co-executado por músicos do classudo grupo Chic do qual o mesmo fazia parte. Após uma estreia esfuziante, o álbum auto intitulado Madonna apresentava a jovem rebelde e sonhadora  ao mundo com sonoridade disco, hits ‘Everybody’, ‘Lucky Star’, ‘Holiday’ e ‘Physical Atraction’, e uma representativa cifra de 9 milhões de cópias vendidas. Seu contrato com a Warner era de apenas 2 álbuns, mas até o momento o mega estrelato ainda não tinha sido alcançado. Sob forte pressão e expectativa, uma balada com letra áspera (no quesito moral e bons costumes) composta pelos ainda desconhecidos Billy Steinberg e Ton Kelly, ‘Like a Virgin’ era o carro chefe e base do que seria sua marca artística definitiva para inseri-la de forma notória no mundo do entretenimento mundial. Como sempre seus olhos  muito atentos desde o recrutamento do produtor (que tentou inutilmente de todos os modos a convencê-la a não gravar a baladinha cafona – por padrões musicais artísticos) ao fato de mudar drasticamente o direcionamento musical (que já estava vendendo tão bem) para algo mais consistente e fora dos padrões comerciais da época (sim, já existiam crises na indústria da música naquela época). Comprada a briga, entre murmúrios negativos nos escritórios da gravadora (que visava acima de tudo o faturamento), o disco foi produzido em 6 semanas mas ficou engavetado até que os frutos do primeiro trabalho se esvaíssem por completo. E mais um tabu estava para ser derrubado, pois era intimidador uma artista feminina, branca e iniciante com apenas um contrato de dois trabalhos conseguir se igualar aos medalhões como Prince (Purple Rain) e Michael Jackson (Thriller e seus já 25 milhões de discos comercializados) e a inevitável Cyndi Lauper (She´s So Unsual), também vale mencionar Lionel Ritchie (ex Commodores) e Chaka Khan. Podia ser, sim, desafiador mas não impossível. ‘Material Girl’, faixa de abertura, foi o hino pessoal da cantora nos anos 1980. Já ‘Like A Virgem’ implantou um novo comportamento e tal qual uma epidemia, diversas garotas apareciam vestidas e dispostas  a  revolucionar o mundo espelhadas em seu ídolo (tais imagens estão presentes no home video 'The Virgin Tou’, gravada no City Music Hall, numa excursão que ganhou proporção conforme os shows iam acontecendo). A prensagem do disco em alguns países (incluindo nosso sortudo Brasil) traziam a faixa ‘Into The Groove’ no repertório, resultado das portas abertas do cinema com o filme ‘Procura-se Susan Desesperadamente’. Outros destaques do disco são as faixas ‘Love Don’t Live Here Anymore’ de 1978, de Miles Gregory, que pilotou junto com Norman Withfiel a  trilha sonora da primeira montagem do filme ‘Car Wash’ e a esfuziante ‘Dress You Up’. Ela finalmente estava pronta e com o mundo nas mãos. Seu som era definido sob aspecto inovador para a época e uma nova estrela sacudiu o MTV Movie Awards com sua apresentação arrebatadora e cheia de sensualidade. A capa do disco ficou a cargo do fotógrafo e  amigo de longa data, Steven Meisel. Nos créditos do encarte o disco foi ironicamente dedicado a todas as virgens do mundo!!! Rsrsrsrs...



Anos se passaram e após 20 anos de carreira, muito bem trilhados, se firmando como um ícone que ‘não segue tendências, (sim, ela as dita!)’ é fato que, com tamanha responsabilidade e probabilidade sócio cultural a arte de Madonna quebrou também o que se costumava chamar de limites/tabus. No início da década de 1990 seu livro SEX, acompanhado do disco ‘Erotica’, fez um tremendo estardalhaço e seria muito complicado reinventar-se em meio a tantos cacos espalhados. Mas, aí está, mais uma vez, o quesito maestria – a qual a já experiente mulher de negócios sabia muito bem lidar. Esperava-se que se desse um tempo – para baixar a poeira, talvez, ou até mesmo se tramar uma nova estratégia de reinvenção. Mas não, o universo pop não tinha nada  que esperar e o faro da incansável mulher já estava atento ao que acontecia com a música, então um time improvável de produtores da moda, na linha do R&B moderno, era escalado para jogar por uma nova marca  chamada Madonna (!). Lembro que um amigo me falou, um dia, que ela se reinventava a cada disco: “é como se ela começasse uma nova carreira”. ‘Bedtime  Stories’ (Maverick/Sire Records/Warner – 1994) soou como um novo sopro e uma piscina clara e fresca de novas possibilidades sonoras e artísticas da, já não mais Material Girl. Canções como ‘Survival’ e ‘Human Nature’ ainda colocavam lenha na fogueira quanto a sua resposta a críticas duras sofridas no trabalho anterior, mas ao mesmo tempo mostrava uma artista madura (em brincar com sequências eletrônicas – como em ‘Don´t Stop’). ‘Secret’ é um momento ecumênico que coloca Madonna em pódio ainda inalcançável por suas seguidoras. Um momento inusitado do disco é a canção título (que não é tão título assim, rsrsrs), ‘Bedtime Story’), assinada por ninguém menos que Björk e produzida pelos caras (Nelle Hooper e seu assistente, Marius DeVries) responsáveis por sua gama sonora inconfundível. O vídeo para a canção é um dos seus mais primorosos visualmente e mais caro consequentemente (estima-se 5 milhões de dólares). ‘Take a Bow’ é co-escrita, produzida e cantada (com vocais discretos e sensuais) por Baby Face, que também fez o mesmo na charmosa ‘Forbiden Love’. ‘Inside Of Me’ é a minha favorita e o disco é cheio de samples (todos creditados claro!). Acredito que foi o último disco da tia ainda prensando no formato de vinil, sim o mercado começava a abrir mão de seu legado elegante  e artístico (muitos foram colocados em calçadas para serem levados juntos como lixo - fato extremamente lamentável) em lugar do novo, portátil, prático, límpido, digital e fofinho CD. Os estojos originais eram de um azul pastel e ao contrário do disco o encarte trazia muitas fotos da nova fase da musa. Há também o fato de duas prensagens da capa – item de colecionador, na certa – em que a posição da foto muda, quer para cima ou para baixo.

Foi meio improvável que artisticamente a soma dos talentos e mãos de um time de pessoas carimbadas dos estúdios (a saber, Nellee Hooper, Baby Face, Dallas Austin e Dave 'Jam'Hall) resultassem em um trabalho tão delicado e belo (e com a grande ‘responsa’ de recriar uma arista com a integridade profissional questionada no momento), claro que supervisionado cuidadosamente pela mulher dona de seus negócios.  Nos agradecimentos Madonna fala sobre o desafio de fazer um disco “tão arriscado”artisticamente (algo sempre presente em seus trabalhos) e ressalta a compreensão de antigos produtores (Shep Pettibone – que talvez, junto a muitos fãs, não tivessem entendido suas escolhas para o momento), ela também celebrava a abertura do seu selo Marverick, que traria entre as grandes surpresas Alanis Morissette e seu Jagged Little Pill. É talvez seu disco mais sutil e leve (e não vendeu muito bem comercialmente falando – ela sequer excursionou para promovê-lo), mas é cheio do talento e sensibilidade de uma senhora (dona de si), que sabe exatamente o que quer e que ainda traria muitas surpresas e novidades estéticas e sonoras nos anos vindouros, pois até aqui ainda eram os anos 90!!!
:)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Annie Lennox - Nostalgia (2014)

Em setembro deste ano, em um salão que integra o  cemitério do museu da música, em Hollywood, houve a primeira audição do que seria a quebra do silêncio musical de Annie Lennox (seu último lançamento foi um álbum natalino de regravações de clássicos Carol´s), junto a uma entrevista onde, destemidamente, ela afirmou estar pronta para ser amada ou odiada. O motivo ainda estava por vir e, em meio a um mar de especulações e expectativas relacionadas ao repertório do novo projeto (que se manteve em segredo), tudo foi sendo misteriosamente e mui discretamente revelado por Annie com fotos em seu blog pessoal.


Por fim, abrem-se as cortinas e o mundo celebra, hoje, a chegada de NOSTALGIA (Island Records/Blue Note Records), um disco que traz a tímida cantora e ativista social relendo grandes clássicos de cunho jazzístico em canções como "I Put A Spell On You" (primeiro single lançado), que já foram regravadas por inúmeros grandes como Nina Simone, Billie Holiday, Ray Charles e Frank Sinatra. A explicação pela escolha do repertório (já tão habilmente trilhado) foi de que ela estava extremamente feliz com seu casamento, o trabalho filantrópico,  o ainda timebreak com os Eurythmics e com registros solos confessionais, como o orgulhoso Bare (2003), onde se sentia incapaz de escrever as canções que já conhecemos, como "Why" (Diva - 1992), onde um acerto de contas sentimental se desenrola sob forte pesar poético e chega aos nossos ouvidos como sussurros encantadores, na sua privilegiada garganta. E que maravilha que temos esta esfinge do pop nos brindando com estes clássicos (a procura por outras gravações é certa). É quase certo (se é que posso mencionar) que os grandes clássicos, apenas os ouvidos mais apurados conseguem deglutir. Mas, no caso de Nostalgia a abordagem tem seu equilíbrio emocional mencionado de forma sublime e sutil, por uma mulher que tem a ciência de seu instrumento vocal, sem grande firulas ou desafios artísticos, apenas as canções e sua visão pessoal das histórias contadas!



É fato que a voz não sofreu ação do tempo e que os arranjos descomplicados só realçam a  viagem nostálgica  (como o título sugere). Em "Summertime" a solidão do piano desliza em meio ao abandono de um ambiente meio iluminado apenas com uma janela aberta deixando uma cortina escura em movimento suave. Os backing vocals (sempre executados por ela) ainda estão presentes em algumas canções e dentre algumas aparições em TVs e sessões de autógrafos (com direito a muitos selfies do meus amigos virtuais/internacionais e até mesmo o Billy Idol [!], que arrasam meu coração a cada momento em que os vejo srsrsrs) o canal do Youtube da Annie já disponibilizou sessões ao vivo do disco, onde estão "I Put Spell On You", "Summertime", "Strange Fruit" e "Georgia On My Mind", que por sua vez exibem a cantora em um momento de pódio, com méritos dignos de uma personalidade tão simples e criativa como a sua. Alguns fãs já até declararam que é o seu melhor desempenho vocal. O formato acompanha também a volta do vinil – sim o disco foi primeiramente lançado sob sugestão da própria, no formato como era consumido outrora, mas também está disponível para download no Itunes, em CD, simple e Deluxe (o disco bônus conta  com uma entrevista em vídeo). Mas, é como ela mesma falou: “...senti a necessidade de registrar minha voz mais uma vez.” E que momentos como este continuem a se repetir através do tempo, quer presente ou nostalgicamente.